domingo, 15 de novembro de 2009

COMPORTAMENTO ANTI-SOCIAL E NEUROPSICOLOGIA



Estudos recentes sobre o transtorno de personalidade anti-social (TPAS) demonstram interesse na investigação cerebral dos sujeitos em questão. Através de exames de imageamento cerebral funcional foi observado modificações estruturais nas áreas frontais e do hemisfério direito do cérebro nesta psicopatologia.

“Estudos de neuroimagem apontam o envolvimento de estruturas cerebrais frontais, especialmente o córtex orbitofrontal, e a amígdala. Também tem sido sugerido que prejuízos na função serotonérgica estariam associados à ocorrência de comportamento anti-social, já que pacientes com diagnóstico de TPAS apresentam respostas hormonais atenuadas a desafios farmacológicos com drogas que aumentam a função serotonérgica cerebral e redução da concentração de receptores serotonérgicos.” (http://www.scielo.br/pdf/rpc/v32n1/24019.pdf)

Mais recente ainda tem sido o interesse da Neuropsicologia sobre o assunto: qual seria o perfil neuropsicológico do TPAS?

No X congresso da sociedade brasileira de neuropsicologia (SBNP) em São Paulo foi dedicado um dia inteiro de conferências sobre o tema. O pesquisador espanhol Jordi Casanova explorou a construção do TPAS com uma visão integrada das neurociências e contextos sociais. Sabemos que esse transtorno tem um “gatilho” vindo do contexto social que é bastante relevante, apesar dos estudos neurobiológicos nos mostrarem a amplitude desta psicopatologia.
Casanova defende que as imagens e experiências que vivenciamos provocam “marcas” e essas informações são distribuídas pelo cérebro ao longo da vida. A memória semântica teria a capacidade de juntar estas informações espalhadas no córtex cerebral e o sistema límbico associa as imagens com outros aspectos cognitivos e emocionais, esses processamentos levam a construção da personalidade humana.
As observações perceptivas estimulam áreas neurais e os circuitos de imitação (pareofrontal, occipital e os neurônios espelhos) facilitando o sentimento de empatia. Os mapas cerebrais individuais se unem através do espaço e tempo auxiliando na construção de pensamentos abstratos, além de uma noção de historicidade pessoal.
Bem, o que Casanova quis mostrar com tudo isso, ou melhor, qual foi minha interpretação de sua conferência?
A partir do momento que pensamos em falhas no processamento cerebral, neuropsicológico e psicológico do TPAS, as quais estão incluídas a incapacidade de formação de empatia, o déficit do pensamento abstrato, uma linguagem verbal empobrecida, um baixo controle inibitório e alta impulsividade para agir, uma tendência a estabelecer rituais, entre outras características...Estamos abrindo a possibilidade para uma hipótese de que algo do contexto social (percepções, experiências, observações) iniba esses sistemas biológicos e de circuitarias neurais responsáveis pelo desenvolvimento destas funções.
Em outras palavras, creio que o pesquisador desejou apontar para características do contexto ambiental nos quais normalmente crescem sujeitos com TPAS (quase sempre ambientes com algum tipo de violência e abuso sexual) e a partir deste momento dá-se início a toda uma mudança biopsicossocial!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ANSIEDADE E IOGA



Todos os pesquisadores atuais que estudam ansiedade sabem que precisamos da mesma para nos manter alerta, atentos e vivos. Porém sabemos também que existe um ponto ótimo de ansiedade. Em outras palavras: se abaixamos muito o nível de ansiedade não somos funcionais o suficiente e se aumentamos muito o nível de ansiedade ficamos estressados!
Qual o ponto ótimo da ansiedade para um bom funcionamento cognitivo e físico no ser humano? Bem, como muitos aspectos humanos este ponto ótimo de ansiedade é individual. Algumas pessoas suportam (e até gostam) de lidar com mais pressão nos seu ambiente, enquanto outras perdem desempenho em tais situações.
Segundo, Atkinson e outros pesquisadores a ansiedade e o estresse estão relacionados com situações onde há perda de controle. Contudo mesmo em situações previsíveis e controláveis existem pessoas mais propensas a elevarem sua ansiedade podendo chegar ao nível de estresse. Este limiar de ansiedade está mais relacionado a componentes individuais onde o auto-conceito possa estar em jogo (fatores intrínsecos).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o estresse piora a saúde de 60% dos executivos nas grandes empresas e afeta 90% dos adultos em todo o mundo.
Numa pesquisa publicada no o globo (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2009/10/08/ioga-diminui-os-niveis-de-ansiedade-depressao-indica-estudo-da-unifesp-767964557.asp), mostrou-se que o estresse pode ser tratado através da ioga. Um estudo piloto foi realizado com 15 funcionários de uma empresa e comparado com 15 sujeitos do grupo controle, onde apenas os funcionários tiveram a intervenção das aulas de ioga. Dr. Ricardo Monezi Julião de Oliveira, professor do curso de pós graduação em Medicina Comportamental, do departamento de Psicobiologia da Unifesp acredita que intervenções como estas podem ser usadas como tratamento para a ansiedade.
O estudo concluiu que 76% dos sujeitos que passaram pela intervenção diminuíram a ansiedade para um nível mínimo de ansiedade, enquanto o grupo controle só 7% obtiveram tal diminuição.
Ou seja: sejamos ZEN, mas não tanto...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

IMPRINTING


Segundo um dicionário de tradução, a palavra imprinting na língua portuguesa (numa perspectiva da psicologia) significa: “aprendizagem rápida que ocorre durante um breve período receptivo, normalmente logo após o nascimento ou incubação, e estabelece uma duração da resposta comportamental para um determinado indivíduo ou objeto, como apego à mãe, filhos.” No dia a dia de nossa profissão chamamos o imprinting de um “comportamento inato” ou algo do tipo “impresso no comportamento”. A palavra está sempre ligada à comportamentos animais aprendidos de maneira automática, inata.
Este fenômeno também pode ser observado na vida celular, como na fecundação de animais sexuados, é uma estratégia evolutiva, na qual um dos genes silencia o gene oposto. Contudo, isso não tem nada a ver com competição entre homens e mulheres (tão usual em todos os tempos e espaços) é apenas um recurso de “poder” biológico.

“Assim que acontece a fecundação, começa a luta pelos genes maternos para silenciar os paternos e vice-versa, através de mecanismos bioquímicos ainda mal conhecidos, mas muito estudados.” (Varella, 2006)

É o caso do gene que determina o crescimento fetal como demonstrou o grupo de Princeton. Na suas pesquisas com ratos, eles colocaram fêmeas monogâmicas cruzando com machos poligâmicos, onde os filhotes nasceram com cerca de 20 gramas. E o inverso: machos monogâmicos com fêmeas poligâmicas, onde nasceram filhotes com cerca de 10 gramas.
Onde se conclui que a maior oferta de espermatozóides favoreceu as fêmeas, cujo gene prefere um feto menor e o gene masculino dá preferência pelo feto maior...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PSICOPATOLOGIA TRANSCULTURAL




As síndromes presente no atual DSM-IV representam apenas os transtornos que ocorrem predominantemente na cultura norte-americana, isto é, ela não é uma lista “universal”. O CID-10 que teria essa pretensão ou proposta. Porém existem opiniões de muitos pesquisadores de que é necessário a criação de normas de uma determinada cultura para que se possa então definir o que é a anormalidade (em cada cultura).
Atkinson e Colaboradores (2002) publicaram exemplos de classificação off DSM-IV. É um bom exercício para ampliarmos nosso conhecimento e fazer algumas associações.
A síndrome de Amok, encontrada na Malásia, Laos, Filipinas, Nova Guiné, Porto Rico e Navajos se caracteriza pelos seguintes sintomas: cisma seguida de comportamento violento, idéias de perseguição, amnésia, exaustão.
A síndrome de Ghost sickness observada entre os índios norte-americanos demonstra sintomas e: pesadelos, fraqueza, sensações de perigo, perda de apetite, desmaio, tonturas, alucinações, perda de consciência, sensação de sufocamento.
A síndrome de Koro, presente nas culturas da Malásia, China e Tailândia, revelam os curiosos sintomas de intensa e súbita ansiedade de que o pênis ou a vulva e os mamilos recuarão para dentro do corpo e causarão a morte.
A síndrome do susto, encontradas na América central e México, demonstra sintoma de perturbação do apetite e do sono, tristeza, perda de motivação e sentimentos de baixa-auto-estima. Os acometidos acreditam que sua alma deixou o corpo.
E por último a síndrome de Taijin Kyofusho, comum no Japão, onde os sintomas transparecem um medo intenso de que o corpo desagrade, constranja ou seja ofensivo aos outros.Como podemos observar fazendo uma gestalt dessas informações, algumas síndromes se assemelham com os transtornos de ansiedade, depressão ou mesmo esquizofrenia classificadas pelo DSM-IV, ainda que não esteja totalmente dentro dos critérios. Outras, porém, são extremamente peculiares dentro do contexto específico de algumas culturas. Como o Japão. Portanto esta pequena amostra corrobora com a necessidade de uma normatização intracultural, com o objetivo de sermos globalizados, porém coerentes e sensatos!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ALZHEIMER



Existem muitas doenças neurológicas, psiquiátricas ou até mesmo psicológicas que são conhecidas há muitos séculos, apenas mudando de nome na contemporaneidade. Contudo existem outras com a doença de Alzheimer que são realmente novas não havendo registro delas (da maneira como é hoje diagnosticada) num período de 200 anos em média.
Numa reportagem da BBC, os pesquisadores atribuem este fato, entre outros, ao aumento da expectativa de vida do idoso em países subdesenvolvidos. O psiquiatra Martin Prince ainda afirma que não se sabe as causas precisas da doença de Alzheimer e seu tratamento é direcionado para a diminuição dos sintomas não havendo uma “cura” para tal desordem neuropsiquiátrica.
Segundo Varella (2006) a população de homens e mulheres acima de 65 anos tem aumentado muito, tanto no Brasil, como em outros países, e esse aumento de longevidade faz que aumente a incidência da doença de Alzheimer no mundo contemporâneo.
A preocupação atual da ciência é a previsão de um aumento em grandes proporções desta doença demencial e a tendência atual para subestimá-la nas pesquisam em medicina. Estima-se que haverá 22 milhões de portadores desse mal em 2025 no mundo.
O estudo da neuropsicologia e neurociências nos mostram que algumas áreas cognitivas atingidas na doença de Alzheimer são possíveis de serem “treinadas” desde a infância até a idade madura. . São elas: a memória, a função executiva e áreas emocionais e de personalidade. Sabemos. que a memória é um cognição bastante importante, tanto para facilitar associações com outras informações registradas no nosso cérebro, como para nos proporcionar uma noção de self., sem memória perdemos nossa noção de “eu” e daí já podem surgir problemas ligados a personalidade. A função executiva (ligada principalmente ao córtex pré-frontal) esta relacionada a planejamento, manipulação de tarefas no tempo e espaço. Ora, perder essas habilidades cognitivas significa desorganizar o eixo da personalidade humana explicando assim, a gravidade dos sintomas.
Atualmente muitas pesquisas têm sido realizadas no sentido de entender a prevenção da doença de Alzheimer através do uso das conexões neurais, isto é, exercícios mentais (e também físicos) como forma de prevenir esse mal. Desde leituras, caça-palavras, quebra-cabeça, até jogos mais elaborados pode nos ajudar a exercitar o cérebro. Além é claro do movimento físico amplamente difundido e estimulado. Quem sabe as crianças podem contribuir nesse processo?Qual o ser mais corporal e lúdico do que elas?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

INSTINTO MATERNO



“O amor materno não constitui um sentimento inerente à condição de mulher, ele não é um determinismo, mas algo que se adquire. Tal como o vemos hoje, é produto da evolução social desde princípios do século XIX, já que, como o exame dos dados históricos mostra, nos séculos XVII e XVIII o próprio conceito do amor da mãe aos filhos era outro: as crianças eram normalmente entregues, desde tenra idade, às amas, para que as criassem, e só voltavam ao lar depois dos cinco anos. Dessa maneira, como todos os sentimentos humanos, ele varia de acordo com as flutuações socioeconômicas da história.” (http://www.redeblh.fiocruz.br/media/livrodigital%20(pdf)%20(rev).pdf).
O trecho acima baseado no livro O Mito do Amor Materno de Elisabeth Badinter (filósofa francesa), lido pela maioria dos estudantes de psicologia, antropologia e sociologia na década de 90 (o livro foi publicado na França em 1980) é contraposto aos pressupostos atuais da neurociência e talvez das ciências em geral.
Bem, se acreditamos em Darwin e na teoria da evolução conseqüentemente...e também se cremos (inclusive, atualmente, visualizamos) as mudanças neuroquímicas que ocorrem no cérebro feminino durante a gravidez e no pós-parto, podemos concluir, que por mais “inventado” que este conceito possa ser, pelos seres humanos do século XIX (interessado na indústria que este fato proporciona), ele (o instinto materno) tem algum propósito evolutivo ou não estaríamos aqui pra discutir o assunto!
A própria Badinter discute as criticas feitas pelos cientistas na época a respeito da questão da palavra instinto. Mas como esta é uma longa discussão, prefiro ir ao ponto: se para todas as regras existem exceções, porque não podemos ter mães que não se interessam pelos seus filhos? Ou ainda: como podemos saber se as mães que deixavam seus filhos com amas de leite ficavam bem com o fato? A pesquisa foi feita em relação ao destino dado aos filhos, mas nada sabemos sobre o estado psico-hormonal destas mães em questão...
Kinsley e Lambert (2006) fazem uma revisão sobre o tema e afirmam que em todos os mamíferos, as fêmeas sofrem profundas mudanças comportamentais durante a gravidez e maternidade, porque o que antes era direcionado para sua sobrevivência individual, passa a ser para os cuidados e bem-estar dos filhos. (Cientifica American, 2006)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

TEORIA DA EMPATIA-SISTEMATIZAÇÃO


TEORIA DA EMPATIA-SISTEMATIZAÇÃO
Nos últimos 50 anos, os neurocientistas têm demonstrado que o dimorfismo cerebral na espécie humana não se restringe à aparência física, mas está presente na configuração do cérebro.
Sabemos que em relação à estrutura cerebral, os homens possuem maior quantidade de substancia branca (mas não da cinzenta) e as mulheres um corpo caloso com mais volume.
Por causa desta disposição morfológica, as mulheres formam mais redes neurais e os homens tem em média de 10 a 20 milhões de neurônios a mais. Como conseqüência observa-se diferenças nas funções cognitivas em cada sexo: os homens demonstram maior habilidade visuo-espacial (interpretação de mapas, encontrar saída de labirintos, lidar com máquinas, etc) e as mulheres tem um melhor desempenho em tarefas ligadas a linguagem e a interpretação das emoções (sensibilidade social, fluência verbal, etc). Em parte isto se deve ao fato de que os as mulheres conectam mais os hemisférios cerebrais simultaneamente (maior corpo caloso) e os homens os usam um de cada vez (menor corpo caloso).
Segundo o neuropediatra Schwartzman as meninas nascem com uma maturação cerebral de quatro semanas a mais em relação aos meninos. O mecanismo responsável por este fato é a ação da testosterona no sistema nervoso. (exceção para casos de hiperplasia adrenal congênita, onde meninas nascem com aumento de testosterona).
Segundo Varella (2006) existe uma teoria na psicologia moderna chamada “teoria da empatia-sistematização”, onde os indivíduos podem ser classificados de acordo com sua maior habilidade de sistematizar ou estabelecer empatia.
Já podemos inferir que a maioria dos homens são mais sistemáticos, enquanto as mulheres são mais empáticas. Varella no seu texto faz uma brincadeira de que isso levado ao extremo faria os homens autistas e as mulheres intuitivas, além de grande desempenho em múltiplas tarefas!!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A GENÉTICA DA POPULARIDADE


“A popularidade de uma pessoa e sua habilidade de formar grupos sociais é, em parte, influenciada pela herança genética, sugere pesquisa das universidades de Harvard e da Califórnia, nos Estados Unidos.” (BBC, Brasil)

Pesquisadores americanos investigaram a influência da carga genética em um quesito relacionado à personalidade: a popularidade. Isto é, características pessoais como carisma, habilidade social e boa capacidade intrapessoal pode ser passado de geração em geração (será por isso que vemos muitos políticos seguindo a carreira na família!?).

A pesquisa realizada comparou a popularidade de irmãos gêmeos, sendo alguns fraternos e outros idênticos (N=1100). Os gêmeos idênticos demonstraram mais popularidade entre si do que os fraternos. Isto significa que deve existir algum valor adaptativo em relação a ser popular, pois vivemos em um mundo altamente “político”, no sentido que melhores conexões humanas (rede de relações) podem facilitar a sobrevivência de muitos seres humanos (talvez não só humanos).

"Uma das coisas que este estudo nos diz é que redes sociais são uma parte fundamental da nossa herança genética", disse James Fowler, da Universidade da Califórnia. "Pode ser que a seleção natural esteja atuando não apenas em coisas como se nós podemos ou não resistir ao resfriado comum, mas também quem vai entrar em contato com quem.” (BBC, Brasil)

O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

NEUROCIÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO




No seu livro “Borboletas da alma”, Drauzio Varella escreve sobre vários assuntos relacionados à ciência. Em um capítulo dedicado ao cérebro e funcionamento neural descreve estudos sobre redes neurais, plasticidade cerebral, condução sináptica e o funcionamento molecular destas células tão nobres. Varella menciona também em seu texto a neurociência do desenvolvimento, no qual ocorre um fenômeno interessante: a apoptose celular.
Apoptose é uma palavra grega que descreve a queda das folhas das árvores no outono, mas em neurociências seria uma espécie de suicídio em massa de neurônios mal adaptados ou em excesso. Explicando melhor: este fenômeno já é esperado geneticamente pelo organismo humano, pois na fase da embriogênese humana (quando ocorre a apoptose) existem 200 bilhões de neurônios circulando pelo cérebro e essa competição neural é necessária para termos os famosos 100 bilhões de neurônios!
“No melhor estilo darwinista de competição e seleção natural, sobrevivem à apoptose coletiva apenas os neurônios mais aptos, que conseguiram formar sinapses bem estruturadas” (Varella, 2006)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

PENSAMENTOS REPETITIVOS



Willia Lu, estudante de doutorado de uma universidade americana (http://thequantumlobechronicles.blogspot.com/2009/08/consequences-of-repetitive-thought_19.html) cita um texto sobre as conseqüências construtivas e desconstrutivas dos pensamentos repetitivos tão comuns em alguns transtornos de ansiedade, como o TOC, por exemplo, os quais são manifestados pelos comportamentos do tipo ruminação, preocupações, pessimismo, entre outros...
Bem, esses pensamentos podem ser construtivos, no caso de se “elaborar”, “descobrir”, “transformar” ou qualquer outro verbo que se queira dar em relação aos traumas que levaram a esse tipo de comportamentos. As conseqüências desconstrutivas são mais óbvias, porém não menos importantes: levam a patologias ou transtornos de ansiedade e depressão.
Para uma leitura mais detalhada, buscar o site: http://www.apa.org/journals/features/bul1342163.pdf

sábado, 15 de agosto de 2009

TEMPO DE REAÇÃO




Às vezes fico pensando, como pesquisadora em neurociências/psicologia: estamos sempre almejando e buscando dados quantitativos, ou seja, material objetivo para nosso campo de pesquisas e muitas vezes nos deparamos com questões que nos remetem a individualidade humana (no sentido de cada ser humano na sua forma singular).

O post de Osame Kinouchi, cujo site é: http://comciencias.blogspot.com/2009/08/por-que-psicologos-devem-estudar.html, me fez refletir sobre este assunto dentro da perspectiva do tempo de reação.

Em neuropsicologia é bastante comum nos concentrarmos em dados quantitativos e análises estatísticas, apesar de levarmos em consideração os dados qualitativos também.
Contudo no final das contas a média e o desvio padrão nem sempre levam em consideração estes últimos nos seus resultados.

Kinouchi levanta esta questão: o tempo de reação em humanos pode ser totalmente padronizado e quantificado em situações experimentais, seguindo a lei de Hick’s? em outras palavras: existem constância no tempo de reação diante de algumas tarefas nos seres humanos?
Segundo o autor do post em questão: não. A lei da entropia nos conduz para tempos de reação que passam por contexto (de sobrevivência inclusive), motivação e demandas específicas. Ele cita tempos de reação com estímulos que seriam nomeação de palavras e outros que seriam de decisão visual lexical e mostra que pode haver variações enormes diante de cada indivíduo em relação ao contexto da tarefa.

Em outras palavras, o ser humano (in vivo) é inconstante diante dos diversos estímulos e surpreendente em suas respostas e tempos de reação!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

NEUROLITERATURA: TARJA PRETA, O LIVRO




Acabei de ler um livro de contos contemporâneo intitulado: “Tarja Preta”. Escrito por autores como: Jorge Furtado, Pedro Bial, Adriana Falcão, Luiz Ruffato, entre outros. O livro além de bem escrito, com uma linguagem contemporânea e leitura muitíssimo agradável, sensível e bem humorada, toca em um dos temas mais atuais da modernidade: as substâncias químicas.

Como psicóloga e estudante de neurociências me chama a atenção dois pontos: a familiaridade de autores não-científicos (romancistas) com a nomenclatura da neurociência (sem entrar em questão com a fidedignidade do conteúdo, afinal de conta trata-se de ficção). Outro ponto é: o uso dos medicamentos de tarja preta na sociedade contemporânea. Como se tomar um antidepressivo ou ansiolítico fosse algo necessário para conviver com os vários tipos de estresses, transtornos e sofrimentos do mundo que criamos (paradoxal, não?). E por isso mesmo os textos descrevem uma naturalização da vida artificial na qual sobrevivemos. O fato é que perdemos o controle dos acontecimentos e mesmo das nossas vidas ou pelo menos isso ficou mais consciente para a humanidade. Mas será que em algum momento já tivemos o controle?

No século passado como o ser humano lidava com a angustia e com o sofrimento? Bem, não sei ao certo, todavia não havia remédio pra tratá-los e a psicanálise ainda era algo para elites e considerada controvérsia. Contudo as pessoas viviam sem os medicamentos tarja preta.

Atualmente esse tipo de medicalização é comum, usado fora do meio, exclusivamente psiquiátrico, e gera muitos milhões para a indústria farmacêutica!

Os contos do livro em questão passeiam por esse universo do mais cotidiano ao surreal, porém sempre levando em consideração o uso destas substâncias nas mais variadas perspectivas de vida humana.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

VÍCIOS




O que determina os vícios? A quantidade de uso, sua freqüência e/ou interações químicas de determinada substâncias no cérebro humano e animal? Quais substâncias podem viciar? Álcool, drogas nicotina, comida, sexo, exercícios? Existe pré-disposição genética ou o vicio é um comportamento aprendido?
Bem, será impossível responder a todas essas perguntas num só post e na verdade minha intenção não é essa, mas segundo a ciência atual todos esses fatores citados acima contribuem para a construção de um vício. Contudo, todos os vícios têm um fato em comum: produzem prazer! Mais especificamente: as substâncias viciantes liberam neurotransmissores como endorfinas e dopaminas.
Minha intenção aqui é reportar o tema levantado em uma notícia científica, publicada em o globo online, sobre o vício em exercícios físicos. Pois alguns vícios sempre me soaram como paradoxais: sexo, comida e exercícios físicos.
O ponto a ser discutido é: exercícios não são saudáveis e estimulados em nossa cultura? Como podem se tornar um vício? Novamente a pergunta: o que determina que seja vício e não uma atividade feita com uma frequencia prazerosa?
“Segundo os pesquisadores, uma maior compreensão dos comportamentos que provocam a liberação das substâncias associadas ao prazer no cérebro pode auxiliar na criação de tratamentos que incorporem a prática moderada de exercícios”. O globo
Caso contrário o sujeito troca um vício por outro!
Para maiores informações: site BBC Brasil.

domingo, 12 de julho de 2009

EXTRA! EXTRA! DESCOBERTA FOTO DE PHINEAS GAGE

Esta foto de Phineas Gage está exposta no Warren Anatomical Museum, nos EUA há 30 anos. Contudo a identidade da foto era desconhecida. Recentemente foi confirmada a hipótese da fotografia em questão ser do paciente tão debatido na neurociência.( http://bps-research-digest.blogspot.com/2009/07/first-ever-photo-of-phineas-gage-is.html).
As informações das descrições feitas sobre Gage na época, assim como a presença da barra de ferro e das cicatrizes no rosto levaram a certeza de sua identidade.
A foto mostra um Gage elegante, bonito e orgulhoso e termina com os boatos de que suas mudanças comportamentais seriam devido a sua má aparência física depois do acidente! (Esta foto foi feita depois do acidente)
Podemos fazer a observação de que quando não temos fatos e dados a imaginação humana pode ir longe...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

HORMÔNIO ESTRADIOL


Cientistas da Universidade de Rochester, em Nova York comprovaram pela primeira vez que o hormônio estrodiol age diretamente sobre a audição humana. Homens teriam a audição diminuída e mulheres antes da menstruação (TPM) também. Além destas evidências hormonais entre gêneros, existem pesquisas confirmando a baixa deste hormônio em mulheres que retiraram os ovários por algum motivo e também na síndrome de Turner. Em ambos os casos houve uma diminuição da audição, o que nos leva a acreditar que a audição está fortemente ligada ao controle hormonal do estradiol no cérebro.
“Embora tais variações não sejam muito grandes, a pergunta, ainda que simbólica, é inevitável: seria o diálogo entre casais sempre tão complicado porque, na verdade, trata-se de uma conversa de surdos? Ou, ao menos, com a audição reduzida?” ( O globo)
O estudo foi feito com o estradiol, um dos três estrogênios (os outros dois são o estriol e a estrona). O estradiol é o hormônio sexual por excelência, ligado à puberdade, à reprodução, a caracteres sexuais e, agora também, à audição.
Assim como vários estudos comprovaram que a visão está na área occipital do cérebro e não somente nos olhos, agora podemos dizer que a audição está relacionada ao hormônio estradiol, comandado por glândulas cerebrais. Cada vez mais observamos que o maestro de nosso corpo está realmente no cérebro, porém não devemos nos esquecer que sem os músicos não existe orquestra, nem música...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

DIENCÉFALO: TÁLAMO




Como vimos na última postagem, o diencéfalo é compostos de quatro partes principais, entre elas o hipotálamo (assunto do último post) e o tálamo, do qual iremos falar agora. ainda restam duas partes a serem discutidas, o epitálamo e o subtálamo.

O tálamo é considerado a porta de entrada para o prosencéfalo, segundo Gazzaniga, quase todas as informações sensoriais passam pelo tálamo antes de atingir o córtex. Existe uma exceção: o sentido olfativo, este tem uma via direta do tronco encefálico pra o córtex (pois o ser humano já precisou bastante deste sentido). Por isso quando mencionamos o tálamo devemos associá-lo à sensibilidade de forma geral ou as aferências (tanto do meio interno como do meio externo).
Alguns estudos também apontam para o tálamo como sendo uma estrutura importante para o processo atencional, o que faz todo o sentido, pois perceber relaciona-se diretamente com a atenção!Durante o sono a porta se fecha e nossos sentidos perceptuais, e consequentemente nossos cérebros descansam... mas nem tanto, pois entram em ação outros funcionamentos cerebrais, os quais nos permitem sonhar... (http://martabolshaw.blogspot.com/2009/05/teoria-dos-sonhos-segundo-neurociencia.html

segunda-feira, 22 de junho de 2009

DIENCÉFALO



O diencéfalo é uma estrutura que fica situada no “centro” do encéfalo, isto é, entre o tronco cerebral e o telencéfalo e abaixo do corpo caloso (estrutura e importantes do epitálamo: o hipotálamo. Sua importância se deve sobre tudo, a sua relação com a hipófise, a qual regula o funcionamento hormonal do corpo.
Segundo Gazzaniga, o hipotálamo é uma das regiões mais vitais do cérebro. Ele recebe input e projeta sua influencia para quase todas as partes do corpo. Está ligado a motivação e comportamentos que foram gerados por esta. O hipotálamo se relaciona com a medula espinhal por onde governa muitos órgãos e funções internas e também controla a hipófise ou a glândula pituitária, a qual comanda outras glândulas do organismo produzindo um efeito cascata. Ou seja, a importância do hipotálamo para a regulação hormonal é bem grande e, portanto qualquer lesão nesta região pode trazer muitos danos para o organismo.
Outra característica do hipotálamo é comandar o desenvolvimento sexual e reprodutivo. Talvez por isso ou em conseqüência disto, podemos atribuir a diferença de tamanho entre as estruturas femininas e masculinas do hipotálamo. Pesquisas atuais levam pra possibilidade desta estrutura influenciar a orientação sexual, pois descobriram que a parte anterior hipotalâmica é a metade do tamanho em homossexuais quando comparados com heterossexuais. E este é o tamanho do hipotálamo anterior das mulheres. (Gazzaniga, 2005)
Acredito que esta é uma estrutura que gera muitas investigações, polêmicas e curiosidades e que devemos ter muito conhecimento para interpretar fatos como este. que divide os hemisférios direito e esquerdo). O diencéfalo pode ser dividido em: tálamo, epitálamo, hipotálamo e subtálamo.
Neste momento nos deteremos a respeito de uma das partes mais conhecidas

sábado, 20 de junho de 2009

CEREBELO



O cerebelo é uma estrutura do encéfalo que fica situada na parte posterior deste. É conhecido pela sua participação nas funções motoras, isto é, o equilíbrio, a propriocepção, o tônus muscular, a coordenação de movimentos, o tato, assim como sua participação em impulsos visuais e auditivos. As doenças relacionadas ao cerebelo vão desde ataxia cerebelar até estudos realizados com autistas (http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=513281&indexSearch=ID).
Segundo Machado, várias fibras nervosas aferentes saem do cerebelo para o córtex, informando-o sobre as funções citadas acima. No cerebelo existem muitas fibras de associação, as quais integram informações cinestésicas com outras, Além disso, é no cerebelo que ficam as fibras da célula de Purkinje, a qual é um neurônio aferente do córtex cerebelar. ( http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=C%C3%A9lulas+De+Purkinje&lang=3)
O cerebelo é a única estrutura do encéfalo que possui um córtex (além do telencéfalo), sendo neste caso, um córtex cerebelar. É, por isso, chamado também de “pequeno cérebro”. Portanto, o cerebelo tem uma superfície extensa e revestida de substância cinzenta por fora e de substância branca por dentro (corpo medular do cerebelo).
O cerebelo é dividido em parte anterior e posterior pelo vérmis e em hemisfério direito e esquerdo pela fissura prima. Outra parte importante desta estrutura é o lobo floco-nodular, a qual se localiza na parte anterior do cerebelo e é responsável pelo ouvido interno e consequentemente pelo equilíbrio.
“O cerebelo é um órgão que faz parte do Sistema Nervoso suprasegmentar, que se origina da parte dorsal do metencéfalo. A palavra cerebelo origina-se do latim e significa "pequeno cérebro". Sua função básica é a de modular e regular a função motora, coordenando os movimentos, regulando o equilíbrio, o tônus muscular e mantendo a postura.” (http://www.geocities.com/epamjr/neuro/cerebelo.html).
Concluindo: o cerebelo é uma estrutura importantíssima na regulação dos sistemas de movimento e seu estudo é pertinente para a compreensão e tratamento de patologias relacionadas a esta estrutura.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O ENCÉFALO NOSSO DE CADA DIA: o tronco encefálico



Sabemos da importância e valor do nosso cérebro e o quanto ele é atualmente noticiado e “badalado” na mídia, contudo não nos damos conta de quanto nosso encéfalo (pois é o que na verdade chamamos de cérebro, na terminologia de neuroanatomia denomina-se encéfalo) é especializado e seu estudo detalhado!
O encéfalo, em neuroanatomia, incorpora várias estruturas: telencéfalo, corpo caloso, diencéfalo, tronco encefálico e cerebelo.
Vamos descrever o tronco encefálico e suas funções. Esta estrutura do encéfalo é também conhecida por cérebro repteliano (pois os répteis têm cérebros similares) e, portanto pode ser considerada uma estrutura que coordena funções mais básicas (porém importantíssimas!) do encéfalo, como respiração, batimentos cardíacos, o sistema de sono e vigília, alguns tipos de reflexos (como o vômito), etc.
O troco encefálico é divido em três partes: bulbo, ponte e mesencéfalo. Cada um com características particulares, porém relacionadas sempre ás funções citadas acima. Existe também nesta estrutura, um importante feixe de fibras, chamado de formação reticular (leva as informações do tronco encefálico para o córtex cerebral), o qual é responsável basicamente pelo sono e vigília.
Segundo Machado, no tronco encefálico está localizado vários núcleos de nervos cranianos, viscerais ou somáticos. A ativação destas estruturas por impulsos nervosos de origem telencefálica ou diencefálica ocorre nos estados emocionais, levando às diversas manifestações de emoção: choro, sudorese, salivação, aumento dos batimentos cardíacos, alterações fisionômicas, entre outras. Contudo seu papel não é de “gerador” ou mesmo de interprete das emoções, o tronco encefálico está mais ligado às expressões físicas das mesmas.
Concluindo o tronco encefálico é uma estrutura fundamental para as regulações básicas e vitais do organismo, ele é bem ligado aos mecanismos fisiológicos e funciona como pano de fundo para o que chamamos de funções secundárias ou “superiores”, ele nos permite pensar, nos emocionarmos, agir, nos comunicarmos, sermos empáticos e altruístas, sem nos preocuparmos com as nossas funções vitais de sobrevivência. Uma coisa é certa: não sobrevivemos sem o tronco encefálico, porém bebês que nascem sem o telencéfalo sobrevivem por um curto tempo.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

EMPATIA




A palavra empatia nos traz dúvidas, ela faz parte de um atributo humano (somente humano?) que não é muito fácil de definir ou quantificar. Quanto àquela pessoa é empática? Vai depender de quem avalia, em outras palavras, a empatia é um julgamento que passa pela subjetividade humana. Mas que esse sentimento existe é um fato. E que em alguns casos, ele não existe é também verdadeiro. Vejamos...
Uma das definições mais comuns de empatia é: “Tendência para sentir o que sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa” (http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=empatia&id=945). Ou como cita Leher: “A habilidade de entender ou partilhar os sentimento do outro”.
Estas afirmações implicam em uma capacidade humana (que outros animais também possuem) que o neurocientista John Leher foi buscar em Adam Smith: a capacidade de imaginação. O insight do autor (http://scienceblogs.com/cortex/2009/05/empathy.php) foi incrível: não podemos sentir ou passar pela mesma experiência do outro, mas podemos imaginá-las tendo como referência os nossos sentimentos e emoções (que nos seres humanos sem psicopatologia são similares). Então a empatia seria a capacidade de imaginar e de alguma forma compreender os sentimentos alheios.
Outro ponto importante, destacado pelo autor foi a observação de a empatia é um sentimento baseado em um julgamento, o qual nunca é neutro. Segundo Smith, os julgamentos estão sempre baseados em questões morais. Portanto ser empático com alguém é fazer um julgamento moral (a partir das próprias emoções) e imaginar que compartilha o sentimento do outro. É importante ressaltar que mesmo o julgamento sendo um atributo racional, ele está intrinsecamente ligado ao aspecto emocional individual.
Mais ainda: quando não há empatia nos seres humanos em nenhuma circunstância? Nas psicopatias. Os psicopatas não se colocam no lugar do outro! Em psicologia estuda-se a psicopatologia como sendo a falta de um julgamento moral, ou melhor, a transgressão dele. Psicopatas não são empáticos nunca.
Tudo bem, algumas pessoas, considerada saudáveis mentalmente, também não. Será que eu estou fazendo um julgamento moral?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA



Um estudo publicado no New York Times (http://www.nytimes.com/2009/06/03/health/research/03teens.html?em) está contribuindo para a afirmação de que a depressão pode ter um forte fator hereditário. O estudo demonstra que adolescentes que tiveram um dos pais com depressão, durante suas infâncias, mostraram maior taxa de depressão na adolescência. Isso faz sentido, mas não determina a questão.
Por que faz sentido? Por questões neurobiológicas e também ambientais, ou seja, uma pré- disposição no funcionamento dos neurotransmissores, adicionado aos comportamentos dos pais depressivos durante um período de vida em que se precisa de atenção (na infância e na própria adolescência) pode ser um fato muito relevante.
O estudo pretendia ter uma visão preventiva da doença. Então foram selecionados 316 adolescentes em idades entre 13 e 17 anos e cujos pais tinham atualmente ou tiveram no passado episódios de depressão. E outro grupo de adolescentes cujos pais eram saudáveis.
A pesquisa, que foi realizada em quatro cidades dos EUA, consistia em comparar grupo de adolescentes com pais depressivos e outros com pais saudáveis e separá-los, de maneira randomizada, em dois grupos: um receberia sessões semanais em grupo de algum tipo de cuidado extra, e o outro grupo receberia os mesmos cuidados de sempre.
O resultado foi que os filhos de pais deprimidos que receberam este cuidado extra mostraram maior grau de depressão do que os filhos de pais saudáveis. Além disso, essa diferença foi ainda maior no grupo em que não receberam o cuidado extra, mas apenas o usual. Isso é, os filhos de pais deprimidos sem cuidados extras tiveram uma porcentagem de depressão muito maior em relação ao outro grupo.
Podemos pensar que a depressão é um comportamento também aprendido? Não necessariamente, pois além dos fatores neurobiológicos influenciarem, não podemos descartar a plasticidade que os seres humanos podem ter em relação ao comportamento e as aprendizagens. Fora isso, cada caso tem suas peculiaridades, pois uma mãe deprimida, por exemplo, nem sempre é quem cuida efetivamente de seu filho, dependendo da gravidade da depressão, será que isso foi levado em consideração no estudo?

quarta-feira, 27 de maio de 2009

AMNÉSIA



É comum em crimes que vão a julgamento, os assassinos relatarem amnésia falsa focal e retrógrada em relação ao crime ocorrido. A defesa alega, freqüentemente, que houve um lapso de memória, justamente no momento do crime. Este tipo de fenômeno ocorre em 45% dos crimes que vão à tribunal. Ora, sabemos, atualmente, que este tipo de amnésia é bastante raro.
Essa falsa amnésia pode ser verificada através de testes por alguns pesquisadores. Um dos testes foi feito quando aplicaram provas de múltipla escolha nos criminosos, onde eram abordados questões sobre o crime. A maioria dos assassinos erra acima do esperado, ou seja, respondem de formas incorretas muitas questões da prova. Isso pode ser uma forma de dizerem que suas histórias (contadas no tribunal) não são verdadeiras. Na verdade eles inibem a resposta correta e colocam como a verdadeira resposta errada (em relação à verdadeira história). Isso nem sempre é fácil de fazer!
Além disso, pode-se verificar que as respostas são sendo manipuladas, através de estudos estatísticos que nos dizem que mesmo se um macaco fizesse a prova de 10 questões ele teria 50% de acertos. Contudo, somente a prova de múltipla escolha não é o suficiente para explicar e fechar esta questão. Pois sabemos também que é possível, apesar da baixa probabilidade, de um sujeito errar e quase zera uma prova mesmo tentando fazer o melhor que pode.
A equipe de Xue Sun tentou explicar e testar a falsa memória também por outras vias. Em resumo: eles contaram uma história para três grupos de estudantes, onde o final dela era criado por cada estudante e registrado por escrito. (No primeiro (verdadeira memória)) e segundo (falsa amnésia) grupos, eles escutavam a história e escreviam o final dela cada um individualmente, além de responderem provas de múltipla escolha. No segundo grupo é feito uma reconstrução da história, alguns fatos são modificados e registrados por escrito. Já o terceiro grupo apenas escutava a história. Uma semana depois, todos retornaram para contarem a história da maneira mais fidedigna possível, ou seja, todos os grupos deveriam lembrar da verdadeira história e não a reconstruída. E qual o resultado?
O primeiro grupo se sai muito bem na tarefa de memória e o segundo e terceiro grupos têm um desempenho bem próximo entre eles e abaixo do primeiro grupo. Isso aponta para a possibilidade de o ensaio ou treino da história verdadeira ter melhorado a memória do primeiro grupo, eles tiveram mais oportunidades de ensaiar a história sem interferências. Os outros grupos acabam saindo perdendo quando não treinam a história verdadeira ou ainda recebem informações diferentes dentro dela. Para maiores detalhes: http://scienceblogs.com/cognitived.php
Ou seja, se você for inventar uma mentira, cuidado para não acabar acreditando nela e esquecer o que aconteceu... Bem, às vezes vale a pena esquecer...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

CONTINUAÇÃO



Dando continuidade ao tema da última postagem, onde descrevemos os conceitos do IPP, da resposta de sobressalto e da habituação. Examinamos também a hipótese de alguns pesquisadores de que há um déficit destes conceitos em algumas psicopatologias.
Existe uma correlação destes conceitos com a base anatômica cerebral. Estudos pré-clínicos sugerem que o IPP é modulado pelo circuito cortico-estriado-palido-pontino, o qual inclui regiões do cérebro que participam do circuito do medo, como a participação da amígdala na produção do medo e da ansiedade. É possível que a região amigdalar tenha uma sensibilidade disfuncional em pacientes com transtornos de ansiedade.
O PPI é considerado um reflexo pré-atencional no processamento de estímulos, a qual é bastante independente da intervenção cognitiva. A habituação já faz parte do nosso aprendizado, ela é necessária para aprendermos a distinguir estímulos relevantes dos irrelevantes. Isso envolve avaliação cognitiva. Uma possibilidade clínica é que os déficits na habituação deixem o sujeito mais sensível e exposto a estímulos e ameaças ou até mesmo “distorça” a informação sensorial.
Os resultados da pesquisa em questão demonstraram um decréscimo no IPP, na habituação e na resposta de sobressalto em pacientes com transtornos de ansiedade, este foi o primeiro estudo em pacientes com transtorno de ansiedade. Estes dados são mais conclusivos em pacientes com esquizofrenia.

terça-feira, 12 de maio de 2009

INIBIÇÃO PRÉ-PULSO (IPP); HABITUAÇÃO E RESPOSTA DE SOBRESSALTO




Neste post abordaremos este tema: modelos experimentais de IPP, sobressalto e habituação. Existe uma idéia sendo investigada por alguns pesquisadores de que em alguns transtornos de ansiedade pode haver alterações de alguns aspectos cognitivos. Não se sabe ainda muito bem ainda quais são as funções cognitivas mais prejudicadas. Portanto, alguns estudiosos optam por modelos experimentais, os quais são mais conhecidos e podem ser testados empiricamente em laboratório ou adaptados para humanos...

O que é a inibição pré-pulso (IPP), a habituação e a resposta de sobressalto?

“O IPP consta de um estímulo fraco (pré-pulso), geralmente acústico, apresentado de 10 até 200 ms antes de um estímulo forte (pulso), também geralmente acústico. Em todas as espécies de mamíferos testadas, incluindo a humana, o pré-pulso reduz ou impede a resposta de sobressalto causada pelo pulso” (Sandner, Hetem e Salgado). Ou acesse o link: http://www.rbpbrasil.org.br/portal/backup/copy_of_artigos/texto-integral/modelos-experimentais-de-esquizofrenia-uma-revisao/.

A habituação já é um conceito mais conhecido: é quando existe diminuição automática da intensidade de uma resposta a um estímulo repetitivo.

A hipótese destes pesquisadores é de o IPP esteja ausente ou diminuído em algumas doenças psicopatológicas, como na esquizofrenia ou nos transtornos de ansiedade (http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=543839&tool=pmcentrez). Ou seja, a idéia principal deste paper é que pacientes com transtorno de pânico (TP) sem uso de medicamentos apresentam déficits em relação ao IPP, resposta de sobressalto e a habituação, o que pode refletir numa maior dificuldade em suprimir ou bloquear o processamento de informações nos pacientes com TP.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

TAXISTAS DE LONDRES: DIFERENÇA NO HIPOCAMPO





Pesquisadores ingleses resolveram investigar sobre a capacidade de memorização de taxistas ingleses. Por quê? Londres é uma cidade com mais de 2000 ruas e os taxistas passam por um rígido exame antes de adquirirem suas habilitações. Como um dos principais centros da memória no cérebro é o hipocampo, comparou-se esta estrutura no grupo de taxistas e no grupo controle.
Foram selecionados por Maguire e sua equipe, 16 taxistas do sexo masculino e 50 motoristas (grupo controle) também do sexo masculino. Observaram-se os cérebros dos dois grupos através de ressonância magnética. A decisão de se utilizar uma amostra masculina é devido ao fato de que existem diferenças entre o tamanho de algumas estruturas cerebrais entre os gêneros.
O que eles acharam? Uma diferença na estrutura, somente na parte posterior do hipocampo (responsável pela utilização de mapas adquiridos), não houve diferença no volume total do hipocampo. Isto é, os taxistas têm suas estruturas hipocampais posteriores um pouco maiores do que os motoristas não-taxistas analisados nesta amostra. No entanto os motoristas não-taxistas têm a parte anterior de seus hipocampos (responsável pela aquisição de novos mapas) aumentada em relação aos taxistas.
Interessante, não? Esta pesquisa mostra que talvez haja algumas estruturas cerebrais possam “se esgotar” com o uso. Ou seja, pode ser que haja um limite para se guardar informações no hipocampo e nos taxistas este limite parece estar no máximo, pois a parte anterior de seus hipocampos é menor do que a dos não-taxistas. Além disto, a pesquisa confirma de alguma forma a idéia da frenologia (especialização cerebral), mantendo algumas críticas à esta teoria, pois afinal de contas, Gall vivia no século XIX e muitas descobertas nesta área de conhecimento foram feitas.
Porém, a pesquisa nos coloca um ponto para pensar: o hipocampo posterior dos taxistas é maior como causa (já era assim quando nasceram) ou conseqüência (ficaram maiores pelo uso)??

quinta-feira, 7 de maio de 2009

TEORIA DOS SONHOS, SEGUNDO A NEUROCIêNCIA


Freud e Jung foram os psicanalistas que mais exploraram o temas dos sonhos. Para eles, os sonhos são desejos inconscientes reprimidos pelo ego, podem ser considerados também reminiscências dos acontecimentos diários (Freud). Outra explicação ainda é de que os sonhos são símbolos arquetípicos que estejam relacionados com a história de vida de cada pessoa (Jung). O fato é que para a teoria psicanalítica os sonhos são sempre objeto de interpretação simbólica e subjetiva.
Pode até ser que os autores acima estejam certos, mas isso não contradiz a leitura contemporânea dos sonhos a partir de estudos da neurociência e da neuropsicanálise.
Suzana Herculano e Robert Lent escrevem sobre o assunto e são categóricos: todos os mamíferos (e algumas aves) sonham. Isto é fato. Mas por que muitas pessoas nunca se lembram de seus sonhos? A resposta está relacionada aos vários circuitos cerebrais que regulam os sonhos, entre eles, o sono e a vigília e mecanismos da memória.
Durante a vigília nosso cérebro está imerso com duas substâncias importantes: a acetilcolina e noradrenalina, elas são responsáveis pela capacidade de memorização dos fatos ocorridos durante o dia (entre outras funções). Já no período do sono, as produções destas substâncias diminuem e aumentam a produção de serotonina, a qual faz com que nossos sonhos (imagens mentais) não sejam reproduzidos em movimento muscular, há um mecanismo de bloqueio dos músculos.
A hipótese, já confirmada, de alguns cientistas americanos (Tononi, Chiara, e cols, 1996) é de que a acetilcolina e noradrenalina são responsáveis pela conexão entre os fatos ocorridos durante o dia: nossas ações, pensamentos, sentimentos, etc. com os circuitos “matrizes” já existentes, gravando aquela informação como memória de trabalho, curto ou longo prazo. Ou seja, estas substâncias são importantes para a formação da memória em si. Mas dependem da nossa vigília, a qual está relacionada com a atenção.
Bem, como eles fizeram pra provar esta hipótese? Lesaram a área responsável pela produção destas substâncias (somente em um lado do cérebro, o locus coerulus), de ratos, e os deixaram acordados durante muitas horas. Durante a vigília mediu-se cada lado do cérebro do rato para saber se a produção destas substâncias tinha diminuído em função da lesão e quais os efeitos desta intervenção.
A resposta foi: SIM! Confirmou-se a hipótese inicial. Isso significa que os pesquisadores concluíram que com a diminuição de acetilcolina e noradrenalina circulante no cérebro não foram observadas as novas conexões neurais, diminuindo a capacidade de memória. É assim que nosso cérebro funciona durante os sonhos: com a baixa destas substâncias. Por isso sonhamos, porém não lembramos...
A autora dá algumas dicas para quem quiser lembrar os sonhos, uma delas: um dia quando acordar espontaneamente (sem despertador) prolongue este momento (entre o sono e a vigília) e tente jogar as informações oníricas para a sua memória de curto prazo, faça o circuito funcionar conscientemente, então você terá acesso aquelas informações durante o dia, até o próximo sonho chegar...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

ANSIEDADE E COGNIÇÃO





Na verdade a proposta deste post é discutir sobre os transtornos de ansiedade e os possíveis déficits de ansiedade. Pois se sabe que a ansiedade por si só pode ser muito útil na adaptação e enfrentamento de desafios, (será que é bom ficar muito calmo num dia de prova? Ou muito nervoso?). Caso a ansiedade não leve a um prejuízo no cotidiano ou a perdas em geral ela é adaptativa, caso contrário ela é considerada como um transtorno de ansiedade e classificada como tal em alguns manuais de psiquiatria.

Existem muitos tipos de transtorno de ansiedade, mas não exploraremos os tipos específicos, usaremos no momento, o termo mais geral, pois o objetivo é analisar, o que a alta ansiedade tem a ver com a cognição?

Este nível alto de ansiedade produz sintomas somáticos em conseqüência da ativação do sistema nervoso autônomo, assim como a excitação crônica pode levar a dor de cabeça, hipertensão e problemas intestinais, além de uma preocupação excessiva com quase tudo ao redor. É aí que entra o prejuízo cognitivo em pessoas com transtorno de ansiedade. Será que quem sofre de transtornos de ansiedade tomam decisões rapidamente? Ou realizam funções executivas normalmente, ou ainda tem sua memória funcionando bem?
“Pesquisas recentes mostram que o estresse crônico pode produzir atrofia no hipocampo, uma estrutura cerebral envolvida na aprendizagem e na memória”. ‘ (Mc Ewen, 2000)

domingo, 26 de abril de 2009

ALUCINAÇÃO



As alucinações visuais funcionam de maneiras bastante distintas no cérebro humano, elas estão mais relacionadas a déficits neurais, alterações dos neurotransmissores ou ainda a disfunções do sistema de reconhecimento emocional. Entre as alucinações, estão os delírios.
Uma profunda disfunção do sistema de reconhecimento emocional pode causar experiências sensoriais esquisitas. O delírio de Fregoli, por exemplo, é uma disfunção na qual as pessoas acometidas confundem estranhos com pessoas que lhes são familiares. Nestes casos um bloqueador de dopamina ajuda os pacientes a diminuírem a falta de reconhecimento emocional. O remédio não remove os delírios, mas o falso reconhecimento.
No delírio de Capgras, o sistema de reconhecimento emocional está subativo e não suprativo, fazendo com que os pacientes enxerguem as pessoas como elas mesmas, porém não fazem o “click” do reconhecimento. Os pacientes com delírio de Capgras têm também uma disfunção cognitiva, eles criam explicações esquisitas para suas percepções distorcidas. Em tais casos, a causa do déficit cognitivo pode ser atribuída a uma lesão cortical.
Segundo Rita Carter, as imagens podem vir de fora ou pode ser gerada dentro da mente, a atividade cerebral é igual nos dois casos. Portanto, imaginar a foto de alguém que você conhece ativará a UFR (unidade de reconhecimento facial) daquela pessoa da mesma maneira que olhar para uma foto dela.
Como dissemos na ultima postagem, o cérebro não transcodifica o mundo exterior, ele o constrói em respostas a estímulos. Os estímulos, normalmente, vêm de fora e levam o cérebro a criar uma imagem que está de acordo com as informações que está recebendo. Ás vezes pode acontecer do cérebro lê erradamente as informações que chegam (criando uma ilusão) ou gerar seus próprios estímulos, que então são interpretados como vindo de fora (delírios/alucinações).
As alucinações podem ser entendidas como experiências sensoriais geradas automaticamente excepcionalmente intensas. O trabalho com esquizofrênicos demonstrou que as vozes ouvidas por eles são de fato, a própria voz. (Carter, 2002). Este assunto é muito importante no estudo da mente e da percepção, abrindo-se outros canais para o entendimento da mente, inclusive de doenças como a esquizofrenia.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

ALUCINAÇÃO E ILUSÃO: ILUSÕES (parte I)


A visão é um dos sentidos mais complexos e sofisticados nos seres humanos. Nos estudos sobre percepção visual, sabe-se que a visão é um processo mais interpretativo do que um processo de tradução do mundo “real”. Isto é, enxergamos com nosso cérebro e não apenas com os olhos, estes funcionam como um canal por onde entram os estímulos visuais externos (http://martabolshaw.blogspot.com/2008/10/ensaio-sobre-cegueira-uma-viso.html). Obviamente que sem olhos não é possível enxergar, mas é possível manter a imaginação ou mesmo produzir-se alucinação. Já o fenômeno da ilusão perceptiva é altamente dependente do aparelho visual (olhos, cristalino, retina, etc.).
O objetivo destas postagens é diferenciar a ilusão perceptiva (http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/7693396.stm) da alucinação, portanto é interessante sabermos que a primeira é um fenômeno mais ligado a erros cognitivos em relação ao processamento perceptual, às vezes como uma proteção do organismo em relação ao meio, ou mesmo por algum tipo de compensação. Já o segundo está mais ligado a alterações neuroquímicas (quase sempre aumento ou diminuição de neurotransmissores) de áreas específicas do cérebro. As alucinações não são necessariamente visuais, é muito comum existirem alucinações auditivas, por exemplo. Contudo iremos nos referir as alucinações visuais.
Neste primeiro post, falaremos sobre a ilusão, seguida da alucinação (parte II).
Segundo Rita Carter (2002), algumas ilusões são causadas por processos relativamente mecânicos, outras, porém, nos mostram alguns mecanismos cerebrais mais complexos: o que pode parecer à primeira vista um erro dos sentidos é na verdade um erro de cognição, e em alguns momentos os dois (erro sensorial e cognitivo) podem acontecer ao mesmo tempo. As ilusões cognitivas ocorrem porque o cérebro é cheio de preconceitos: hábitos de pensamentos, reações emocionais reflexas e ordenamentos automáticos da percepção. Estes preconceitos estão, de certa forma, pré-estabelecidos no nosso design neural. Esse modelo de teorias pré-pogramadas nos permitem a tomar decisões rápidas, práticas, sobre como reagir àquilo que percebemos.
“Os preconceitos que dão origem às ilusões sensoriais são geralmente benignos. A ilusão de uma miragem no deserto pode ser um truque cruel, mas não é um que tire muitas vidas hoje em dia e os mágicos podem usar nossos vários pontos cegos para iludir, mas isso geralmente é feito por uma feliz conspiração com o iludido.” Carter, 2002
Portanto, para concluir este post, as ilusões perceptivas (http://martabolshaw.blogspot.com/2008/11/viso-tnis-e-erros-perceptuais.html) são curiosas e até usadas de maneiras lúdicas através da mágica e brincadeiras, contudo, existem as ilusões puramente cognitivas, aquelas nas quais as percepções afetadas são mais as idéias que os fenômenos sensórios. As idéias ilusórias podem induzir a erros graves. Mas como o pensamento é algo mais flexível do que os objetos matérias, é possível fazer ele (o pensamento), estar em constante atividade física para não se torna rígido demais!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

VACINA CONTRA O STRESS!


Muitas pesquisas investem no conhecimento biopsicossocial em relação à ansiedade e ao estresse. Pois se sabe que o estresse é um dos preços pagos pela vida moderna, porém não entraremos nessa discussão. Contudo é de fundamental importância diferenciar, rapidamente, o conceito de ansiedade (http://www.nnce.org/pubs/2006/2006FreezingeTranstornosdeAnsiedadePsicologia.pdf) e o de estresse. O primeiro é necessário (em alguns níveis) para a sobrevivência. O segundo não, quando de fala em estresse, já se fala de uma ansiedade acima da média e, portanto “patológica” para resumirmos esta questão, a qual também não é nosso objetivo no presente post.
O estresse tem afetado a um grande número de pessoas, e a possibilidade de criação de uma vacina que neutraliza os efeitos do estresse é fantástica. Até porque, segundo os cientistas é mais fácil neutralizar seus efeitos (do estresse) do que impedi-lo!
O pesquisador primatologista Robert Sapolski estuda a possível realização deste desafio: criar uma vacina contra as conseqüências do estresse. A idéia geral da pesquisa é inserir proteínas “neuroprotetoras”, e também estrogênio, de uma forma modificada do vírus do herpes (por ser um tipo de vírus que fica acomodado sem manifestar-se dentro das células nervosas) no córtex de ratos de laboratório e produzir algum tipo de estresse neles, iniciando-se o gatilho de todo o processo de infecção causado pelo vírus do herpes pós-estresse. As proteínas “neuroprotetoras” entram em ação no combate contra a infecção e morte das células afetadas.
Sabe-se, que quando os hormônios relativos ao estresse aumentam na corrente sanguínea, e o organismo é portador do vírus do herpes, por exemplo, gera-se a chance da infecção se instalar, no mínimo por alguns dias. O esforço do sistema imunológico deve aumentar como resposta bioquímica ao estresse (suprimindo-o).
Sapolski está inserindo o vírus do herpes no córtex dos ratos e ao mesmo tempo o que seria o tratamento: proteínas neuroprotetoras, e criando dois grupos de ratos: um deles é o grupo controle e o outro é o grupo experimental. No primeiro, injeta-se apenas o vírus do herpes e cria-se o estímulo estressante. No segundo, injetam-se as proteínas “neuroprotetoras”, além do vírus do herpes e do estimulo estressante. Resultado: os ratos que tiveram o tratamento “medicamentoso” recuperaram as células infectadas e mortas, enquanto os ratos do grupo controle tiveram 40% dos neurônios da região definitivamente afetadas.
Leher (http://scienceblogs.com/cortex/) nos alerta: se ficarmos calmos e relaxados não precisaremos entrar nesta luta, porém enquanto ainda não descobrimos o botão contra o estresse é bem interessante investir contra suas conseqüências, como foi demonstrando nesta pesquisa. O estresse pode gerar vários tipos de doenças, desde herpes, doenças auto-imunes até depressões graves e alguns tipos de perda de memória. Em suma: façam yoga e meditação caso seja possível! CARPEM DIEM!!

terça-feira, 21 de abril de 2009

GRUPO DO RISO





Pesquisadores da Califórnia demonstraram, ainda com uma pequena amostra, que aquilo que se diz no senso comum, pode ser uma verdade científica: pessoas mais felizes, ou no mínimo mais bem humoradas, podem sofrer menos de doenças cardíacas. Este post é baseado numa reportagem do jornal O Globo (20/04/09).
"Os melhores médicos sabem que existe uma ligação intrínseca entre as emoções positivas, o otimismo e a esperança, e a melhora do quadro das doenças." O Globo, abril, 2009.
O pesquisador Lee Berk, psiconeuroimunologista da Loma Linda University, na Califórnia, que coordenou o estudo, afirma não há dúvidas de que há uma relação estreita entre o bem-estar emocional e a saúde física. Berk e sua equipe conduziram uma pesquisa com 20 pacientes diabéticos de alto risco, onde eles foram divididos em dois grupos com tratamentos medicamentosos idênticos, porém o segundo grupo, o grupo do riso, tinha uma importante variável: assistiam a um programa humorístico, diariamente por 30 minutos.
Resultados: os participantes do segundo grupo aumentaram os níveis de HDL (colesterol bom) e reduziram o nível dos hormônios ligados ao estresse. Esses hormônios quando estão em baixos níveis no organismo, diminuem a possibilidade de processos inflamatórios no organismo e conseqüentemente reduzem o desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Pois se sabe que a inflamação crônica é uma das causas de doenças coronárias. Verificou-se que esses pacientes tiveram uma melhora de 66% nos níveis da proteína-C reativa (um indicador de processos inflamatórios no organismo) e de 26% nos níveis de colesterol.
Conclusão: Rir ou, ter senso de humor, pode fazer muito bem ao coração! Mas eu me pergunto se uma pessoa tiver exposta à níveis muito altos estresse no seu dia a dia, será que momentos mais “divertidos” neutralizam o estresse e suas conseqüências? Bem, creio que mais pesquisas devam ser feitas neste campo, ainda há um longo caminho a percorrer...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A CIÊNCIA NA MÍDIA



Uma matéria na internet (http://arstechnica.com/science/news/2009/04/social-media-slammed-by-science-reporting-not-science.ars/2) me chamou a atenção por coincidir com algo que tenho observado: o sensacionalismo da mídia em relação aos temas científicos.
Nesta matéria, o jornalista (John Timmer) relata a insatisfação de alguns cientistas, incluindo Antônio Damásio (a quem entrevista rapidamente para escrever a presente matéria) em relação à superficialidade das reportagens científicas. Afinal de contas fazer ciência exige disciplina, rigor, concentração e certa profundidade, e de repente, os cientistas se deparam com suas teorias publicadas de maneira tão reducionistas, quando lêem seus jornais no café da manhã!
Contudo, este diálogo entre ciência e jornalismo é necessário, pois quase toda teoria tem uma aplicação prática e social, além de divulgar o conhecimento. Inúmeras matérias recentes sobre alimentação, saúde, neurotransmissores, “exercícios para o cérebro” tem sido ponto de discussão. Como escrever reportagens científicas de maneira séria e responsável?
Existem alguns problemas, como a própria linguagem científica, a qual é hermética dificultando o entendimento dos papers. Outro fator problemático é o tempo entre o realese chegar na redação e a publicação dos fatos em tempo “real”, entre outros pontos políticos e econômicos que envolvem a ciência e mídia, os quais não entraremos em profundidade.
Observo que na mídia tudo é rápido, “descartável” e sensacional, já na ciência (uma ciência de fato) não. Para se elaborar uma pesquisa, hipóteses, testagens e re-testagens leva-se bastante tempo. Talvez isto cause um hiato entre ambos os campos de conhecimentos. Existe uma crise no jornalismo científico (crise econômica inclusive), pois esta especialidade está se perdendo e junto com ela a ciência e o público.
Podemos pensar, como uma das soluções para o problema em uma plasticidade metafórica: os blogs científicos como uma migração de neurônios para preencher e substituir os déficits da mídia jornalística tradicional. E por não?
Sugestões de blogs: Nature e The frontal córtex.

terça-feira, 7 de abril de 2009

PARKINSON



Quando li a notícia sobre a nova descoberta no tratamento da doença de Parkinson, a primeira idéia que me veio à cabeça foi: a ciência traz benefícios concretos para vida humana! Valorizemos-a!
Bem, esta frase pode parecer um pouco prepotente e pretensiosa, segundo algumas visões não-objetivistas do homem. Contudo, a ciência, através de pesquisa experimental, efetivamente achou um caminho para o tratamento da doença de Parkinson bem menos invasivos que as cirurgias que estavam em andamento e que só incluíam 30% dos pacientes com a doença de Parkinson (a maioria não tinha indicação para este tipo de tratamento invasivo e bastante delicado). A doença de Parkinson afeta cerca de 1% da população mundial e, na maioria das vezes, surge depois dos 50 anos. Trata-se de uma desordem neurológica e seus sintomas são: tremores, rigidez muscular, perda de equilíbrio e às vezes demência.
Filosofia à parte, vejamos os fatos: Nicolelis, pesquisador brasileiro ligado à universidade de Duke e diretor do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, publicou na “Science” seu experimento em laboratório com ratos O tratamento proposto por Nicolelis é através de uma estimulação elétrica na medula (na altura da cervical), isto é, são dados estímulos elétricos no pescoço do sujeito experimental (por enquanto ratos) e com isto estimulam-se as regiões cerebrais ligadas ao Parkinson (área motora) e também outras regiões do sistema nervoso central próximo às áreas motoras.

“Como a região da medula dá acesso a várias outras partes do corpo, esperamos poder abranger um número maior de sintomas motores” (Nicolelis, O Globo, 2009)

O experimento mostrou que ao gerar um estímulo elétrico mais generalizado, que percorre todo o sistema nervoso central, o resultado seria menos localizado e mais eficiente, ao abranger áreas maiores.
A partir deste experimento com ratos, os pesquisadores pretendem testar a nova técnica em primatas, para em seguida viabilizar o tratamento em seres humanos. Será que as críticas aos testes em laboratório, defesa dos animais, e todo o discurso anti-científico são realmente pertinentes? Quais seriam os argumentos neste caso?

domingo, 5 de abril de 2009

APERFEIÇOAMENTO COGNITIVO OU TRATAMENTO?



Todd C. Sacktor, neurocientista do SUNY Downstate Medical Center, em Nova York está testando uma droga com o objetivo de melhorar o desempenho da memória, tanto em pessoas normais como em patologias onde esta cognição é afetada, como as demências.
A droga experimental age sobre algumas substâncias no cérebro responsáveis pela memória, tentando “apagar” alguns circuitos cerebrais indesejáveis como o medo, maus hábitos ou quem sabe a lembrança de um namorado que se quer esquecer (como a brincadeira do filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”). O ponto que podemos analisar a partir desta matéria, publicada em “o globo(Abril/2009), é o seguinte: isso seria terapêutico ou um aperfeiçoamento cognitivo?
No nosso universo de “pacientes” temos aqueles mais comprometidos patologicamente falando, isto é, aqueles que sofrem de algum tipo de défict. Neste caso não há controvérsias, uma droga pode ser muito benéfica e eficiente. Pacientes com TEPT ou Alzheimer pode se beneficiar com este tipo de tratamento, mesmo se tratando de patologias bastante distintas.
Porém dentro do grupo de pessoas que tem maus hábitos e/ou comportamentos aprendidos e indesejáveis (como fumar, usar drogas e álcool, tiques ou distúrbios alimentares e do sono) também existem a indicação desta droga. Este grupo pode se beneficiar deste tratamento medicamentoso ou pode tentar mudar estes comportamentos por outros métodos. Mas existe um “comportamento indesejável”, ok, seria terapêutico.
A controvérsia gira em torno das pessoas que apenas desejam melhorar sua performance intelectual! Essa droga pode agir também como estimuladora da memória e outros processamentos cognitivos. Será isto uma sacada da indústria farmacêutica ou apenas uma tentativa do ser humano se aperfeiçoar? Ou ambas as opções?

segunda-feira, 16 de março de 2009

A SEROTONINA E OS GAFANHOTOS



Uma reportagem científica, publicada na BBC (http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/7858996.stm), descreve uma pesquisa relacionando comportamento agressivos (em enxames de gafanhotos) e uma alta de serotonina no organismo destes animais. Foi demonstrado em laboratório que os gafanhotos, na fase gregária (enxames), liberam três vezes mais serotonina no organismo, transformando assim seus comportamentos.

Os gafanhotos passam a maior parte do tempo em fases solitárias e “calmas”, contudo quando estão na fase gregária, aumentam seus níveis químicos de serotonina, transformando seus comportamentos: tornam-se agressivos, mudam de cor (ficam mais escuros) e ganham força física. Durante estes enxames, estes pequenos insetos podem causar grandes problemas para alguns agricultores e fazendeiros na África e na China, segundo esta pesquisa, levando aos pesquisadores a abrirem caminho para novas idéias no controle de estratégia dos gafanhotos. Eles resolveram o problema através da inibição da produção de serotonina, isto é, convertendo os enxames para a fase solitária e calma dos insetos.

“A serotonina influencia profundamente o comportamento humano e sua interação social”. Em seres humanos, em contraste, a manutenção de altos níveis de serotonina é o objetivo de muitos antidepressivos!

O curioso desta pesquisa é que ela mostra um paradoxo em relação à serotonina, pois enquanto ela leva a um comportamento agressivo nos gafanhotos, ela também pode gerar um comportamento de timidez em seres humanos. Ou seja, o achado importante é de que a mesma substância química que causa uma timidez normal pode também levar a um comportamento de maior agressividade.

quarta-feira, 11 de março de 2009

TEPT



Uma nova forma de tratamento para pacientes com TEPT está sendo pesquisada por neurocientistas americanos (http://www.technologyreview.com/biomedicine/22187/). Eles estão testando drogas (o propranolol, medicamento utilizado para pessoas com pressão alta) e obtendo bons resultados: significativa diminuição dos sintomas ansiosos, assim como a extinção deles de forma mais definitiva!
O tratamento mais comum para pacientes com transtornos de ansiedade em geral são técnicas de exposição (in vivo ou in vitro) usada na Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), onde o paciente é levado gradativamente a se aproximar do “objeto”, o qual elicia o medo e a ansiedade relacionados ao trauma em questão. Contudo essa técnica de TCC é eficiente em parte, pois além de existir a probabilidade de um retorno dos sintomas pós-traumático em algum momento da vida do paciente com TEPT, a exposição ao tal objeto leva aos pacientes a um maior contato com a emoção de medo, e, portanto sofrimento, em relação ao próprio sintoma.
Bem, os cientistas sugerem que com o uso de propranolol exista um bloqueio dos componentes emocionais relacionados à memória de longo prazo. Ou seja: bloqueando o acesso a via emocional da memória, o paciente com TEPT elimina os sintomas de ansiedade pós-traumática de forma mais duradoura, pois se cortou a conexão neural daquela via que liga a emoção (neste caso, o medo, a área correspondente no cérebro é a amígdala), mas se mantêm intacta as vias das imagens mentais da memória. Isto é: o paciente lembra dos fatos e das imagens do trauma, mas não sente a mesma emoção de medo que vivenciava quando lembrava ou relembrava-os.
Será que podemos dizer que esta intervenção é um aprimoramento cognitivo? Acredito que não, pois estamos lidando com um transtorno psiquiátrico, porém será que podemos acreditar na extinção de sintomas como uma anestesia? Neste caso a anestesia é bem proveitosa, podemos dizer até que deveria fazer parte do tratamento!

quinta-feira, 5 de março de 2009

Outliers: o que define, afinal, a inteligência?




Dando continuidade a última postagem sobre os outliers, Gladwell escreve dois capítulos sobre a questão da inteligência: o que a define em nossa cultura? Como ela pode ser aproveitada ou desperdiçada?

Alguns dos pontos importantes abordados pelo autor são: os testes de QI e a genialidade. Alguns psicólogos estudiosos da inteligência defendem o fato de que um escore do QI a partir de 130 (entre 130 e 200, por exemplo) não faz muita diferença qualitativa, já que estamos lidando com pessoas muito inteligentes e provavelmente com diversos talentos. Porém se analisarmos sujeitos com QI de escore igual a 100 (média da população americana) até 130, esta diferença provavelmente será significativa. Ora, o que isto significa?

Bem, significa que pessoas muito inteligentes, não importando o quanto (acima do QI de 130), terá chances equivalentes de expressar seus talentos. Sendo assim, a diferença quantitativa neste caso é irrelevante. O que vai diferenciar os sujeitos, nestes casos, são oportunidades probabilísticas (sorte), habilidades sociais (saber lidar com autoridade, por exemplo), certa estabilidade emocional, o esforço para alcançar algo e porque não, certa competitividade e um elevado grau de auto-estima?

Um outro grupo de psicólogos investigou a importância da educação familiar (e não a formal) na formação intelectual (incluindo inteligência, criatividade, habilidades sociais, etc) das crianças, onde foram observadas diversas famílias durante 24 horas (por alguns meses). Estas famílias (de alta e baixa classe social) tinham seus filhos no ensino fundamental. Qual foi a observação que chegaram? Na família de alta classe social existe uma “aprendizagem orquestrada” enquanto na família de baixa classe social existe uma “naturalização” do aprendizado. No primeiro caso, existe um direcionamento para que as crianças saibam aproveitar seus talentos, lidar com autoridade, aprenda a questionar e enfim usufruam num ambiente onde as “idéias estão no ar”. Já no segundo exemplo a tendência familiar, era de não intervir no desenvolvimento “natural” da criança, assim como uma menor habilidade para lidar com autoridades e questionar regras.

Fiz uma observação destes fatos com minha filha, na verdade faço isso o tempo todo, reparei que ela percebeu que meu vestido tinha uma alça arrebentada, como estava no trabalho coloquei um clipe para segurar. Chegando em casa, fiz isso na outra alça também (como compensação para minha inabilidade para costurar e por achar esteticamente interessante). Minha filha de 7 anos observou a transformação do vestido e imediatamente pegou todos os clipes da casa e construiu vários objetos: colar, chaveiro, casa em miniatura! Esse é um dos critérios da criatividade, a utilização de um mesmo objeto para funções distintas, inclusive utilizando-o de maneira não convencional.

Talvez seja um pouco cruel este pensamento, contudo o autor chega à conclusão de que ser um sujeito inteligente proveniente de uma classe social alta ou ser um sujeito inteligente proveniente de uma classe social baixa faz toda a diferença!! Isso não é uma idéia determinista, mas apenas uma observação dos fatos numa amostra populacional.

terça-feira, 3 de março de 2009

OUTLIERS ou o que você fez (ou não fez) nas suas férias?




Malcolm Gladwell, autor das publicações “The tipping point” (O ponto de desequilíbrio) e “Blink”, escreveu recentemente “Outliers”, onde analisa vários casos de pessoas que estão fora da média (em termos estatísticos) ou em outras palavras: indivíduos fora de série.

É muito interessante perceber no texto de Gladwell, a quebra de tabus em relação aos outliers (que são quase sempre sinônimos de sucesso), e a valorização dos fatores: sorte, oportunidade, legados culturais, e consequentemente a desmistificação daquele sujeito brilhante, com QI altíssimo, de família rica, ou mesmo pobre, mas com esforço e força de vontade extraordinária. É óbvio que estas variáveis todas contribuem (de forma significativa) para um sujeito se tornar um outlier, contudo elas não são determinantes para eles. Afinal, para que serve o brilho intenso de um diamante, se estivermos no escuro?

Foi pensando assim que Gladwell examina cuidadosamente vários casos de outliers em diversas áreas do conhecimento: esporte, informática, música, direito, psicologia, antropologia e aviação, fazendo com que o leitor aumente o seu conhecimento em relação à percepção do todo e ao mesmo tempo reflita sobre pontos da cultura, como algumas arbitrariedades, que nos passam de maneira um tanto quanto invisíveis... e assim Gladwell e outros estudiosos se tornaram reis em “terra de cegos” ( digamos uma cegueira branca em que vivemos).

Vamos a um “caso” do livro: o que você fez nas suas férias!? Nada? Viajou? Foi à praia?? E seus filhos? Foram a livrarias?

Bem, eu li o livro outliers, entre outras atividades! E é justamente esse o ponto importante, colocado no capítulo 9 (A barganha de Marita) do livro em questão: a diferença significativa de aprendizagem, conhecimento, treino, cultura que podem ser adquiridos durante as férias escolares no desenvolvimento das crianças americanas. Pesquisadores observaram que no final do ano letivo as notas dos alunos de classes alta, média e baixa eram bem aproximadas em leitura (estudo realizado em escolas públicas). A tabela abaixo mostra o total das notas (conhecimento acumulado em leitura) de crianças de primeira a quinta séries do ensino fundamental:

Classe 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série 5ª série Total
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Baixa 55 46 30 33 25 191
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Média 69 43 34 41 27 216
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Alta 60 39 34 28 23 186
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O que podemos observar nestes dados? Que os alunos de baixa classe social americana (moradores de Baltimore, os quais vivem realmente com poucos recursos financeiros), totalizaram um escore maior que os alunos de alta classe social da mesma escola, ou seja, o ensino desta escola está bom. Agora, vamos observar a próxima tabela, que representa como as notas de leitura mudaram durante as férias de verão. Estes escores são de testes feitos pelos pesquisadores no retorno às aulas:

Classe Após a 1ª série Após a 2ª série Após a 3ª série Após a 4ª série Total
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Baixa -3,26 -1,29 2,74 2,89 0,26
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Média -3,11 4, 18 3,68 2,34 7,09
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Alta 15,38 9,22 14,51 13,38 52,49
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Como podemos observar depois das escolas escolares, a classe alta dá um enorme salto de acúmulo de conhecimento. Isso não é incrível? Então, voltemos à pergunta: o que você fez (ou não fez) nas últimas férias?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

NEURÔNIOS PRÉ-FRONTAIS E MEMÓRIA DE TRABALHO



Segundo uma pesquisa desenvolvida recentemente nos EUA e publicada no jornal “O Globo”, observou-se que a memória de trabalho (MT), como é chamada por alguns pesquisadores, é armazenada por neurônios individuais na região pré-frontal do cérebro, os quais são capazes de guardar as informações por 1 minuto ou mais. Este tipo de memória é transitório e sujeita a modificações ao longo do seu processamento (para utilizar um termo de computador, pois afinal de contas ela é comparada a memória RAM dos micros).
Esta pesquisa é a primeira a identificar o sinal que estabelece uma memória celular não permanente e a revelar como o cérebro guarda informações temporárias. Existem muitos estudos neurais a respeito de como funciona a memória permanente ou de longo prazo (a qual é comparada ao disco rígido do micro), porém pouco se sabe sobre o funcionamento cerebral da memória de trabalho.
“Os cientistas já sabiam como memórias permanentes são arquivadas. Este processo, no entanto, leva minutos ou até horas para ser ativado e desativado, e é muito lento para guardar temporariamente informações que chegam rapidamente. No estudo, os pesquisadores identificaram outro processo de memória celular, desencadeado por impulsos rápidos de informação que duram menos de um segundo, em células nervosas individuais. Esse processo pode durar apenas um minuto.” (o globo, 2009)
Esta descoberta pode ser um campo de grandes avanços na recuperação de memória de trabalho em pessoas com déficit de atenção, perda de memória por stress, alguns casos de demência, e até mesmo nas compulsões.
"Para pessoas viciadas em drogas, podemos fortalecer essa parte do cérebro associada à tomada de decisões, permitindo que elas ignorem impulsos e avaliem as conseqüências negativas do seu comportamento antes de usar drogas." (o globo, 2009)