quinta-feira, 12 de agosto de 2010

MUDANÇA DE PARADIGMA





Aprendemos há cerca de duas décadas atrás que os neurônios quando “morriam” não eram substituídos nem capazes de regeneração. Isto é, os neurônios de sujeitos adultos seriam células únicas, tornando sua morte uma perda neural irreversível!
Sabemos já há algum tempo que não é bem assim que nosso cérebro funciona. Existe plasticidade neural: novas circuitarias neurais podem ser construídas em paralelo as outras antigas. Em alguns indivíduos observa-se uma boa capacidade de flexibilidade cognitiva e de controle inibitório, estas são duas funções cognitivas que fazem parte das funções executivas (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151644462006000400013&script=sci_arttext&tlng=es) e, portanto presentes do córtex pré-frontal. Sabe-se também que os anos de estudos são proporcionais a quanto um indivíduo consegue “modificar“ seu cérebro através de novas aprendizagens (como se houvesse mais matéria prima para isso). Enfim, muitos estudos e pesquisas apontam para uma dinâmica e transformação nas redes dos neurônios na vida adulta.
Um estudo recente foi relatado neste blog: http://wiringthebrain.blogspot.com/2010/08/migrating-neurons-clear-their-path.html, onde o autor faz (através de imagem), uma bela metáfora da migração dos neurônios com a passagem bíblica de Moisés abrindo caminho sob o mar vermelho.
A maioria de nossos neurônios ”atuais” não nasceu no local onde estão agora. Um exemplo interessante são os neurônios inibidores do córtex pré-frontal, responsáveis por muitos processos cognitivos. Eles NÃO são produzidos no córtex e sim no striatum.
Em outras palavras, os neurônios fazem uma passagem ou caminhos, de partes do cérebro para outras, onde estão sendo “demandada” uma reposição ou um “plus”. Estes neurônios passam por modificações neuroquímicas e já possuem alguma programação e instrução genética para atingir a sua meta. Contudo essa passagem é discreta, pois o cérebro adulto tende a não permitir muitas mudanças (zona de conforto) e manter sua estrutura construída.
Será que é por isso difícil a pessoas se auto-modificarem?
Todas essas teorias e hipótese corroboram com estudos atuais como a Neuropsicánalise e o Neurocoaching, os quais defendem cada um a seu modo, que o cérebro e tudo o que ele representa (mente, desenvolvimento, cognição, afetos) pode estar (dependendo do cérebro em questão) em discreta e resistente metamorfose.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Coaching e Neurociência


Inaugurando uma nova sessão de assuntos relacionados ao estudo do cérebro: o neurocoaching.

Segundo um famoso neurocientista o coaching é um caminho de neuroplasticidade auto-direcionada. Para os autores do assunto o termo pode ser definido como uma prática que se especializou em proporcionar mudança de consciência levando à ação e proporcionando novas experiências em relação ao meio no qual se está inserido.
O coaching é um método utilizado por profissionais de: psicologia, administração e outros profissionais de diversas áreas. O processo de coaching visa o desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo com foco em objetivos e metas individuais.
A tradução da palavra coach pode ser: treinador (a mais usada e conhecida) e carruagem. Ou seja, o coach treina (aperfeiçoamento cognitivo) e “transporta” o indivíduo para algum objetivo (idéia de desenvolvimento).
As ciências humanas sempre buscaram atualizar seus conhecimentos a partir de novas perspectivas e pensamentos. Com as novas descobertas sobre o cérebro e funcionamento mental a partir da década de 90, os métodos de coaching revisaram seus conhecimentos teóricos e práticos. Atualmente existe uma nova modalidade de coaching utilizando a neurociência: o neurocoaching. É uma metodologia já há algum tempo utilizada nos EUA e recentemente trazida para o Brasil.
A metodologia do neurocoaching usa as descobertas das neurociências para acelerar o processo de auto-desenvolvimento em um processo de coaching. Como pensamos e formamos redes neurais? Como utilizar melhor um insight? De que forma as emoções e o estresse pode interferir nas tomadas de decisões? Segundo o neurocoaching o processamento de informação é estabelecido de forma mais consistente e duradouro quando somos capazes de formular perguntas e questionamentos. Isto significa que nem sempre as respostas e os resultados são os responsáveis pela construção dos pensamentos, idéias e criatividade, porém as perguntas formuladas a respeito de algo.
Fazendo uma analogia com a neuropsicanálise, a qual estuda as mudanças neurais a partir do processo de psicoterapia, o neurocoaching usa esta possibilidade de construção da circuitaria neural para o auto-desenvolvimento e realização das metas estabelecidas dentro do processo do coaching.
A meta-cognição é utilizada como um dos alicerces teóricos do neurocoaching, isto é, a consciência humana de saber que sabe, usando este conhecimento como ferramenta para mudanças de crenças e comportamentos.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

"Estudar também é saúde!"




Depois de escrever minha dissertação de mestrado, defende-la e fazer as correções da mesma, estou de volta para escrever sobre psicologia e neurociências e todas suas possibilidades!
Para começar e estimular as funções cognitivas de todos, escolhi uma pesquisa sobre a correlação entre alta escolaridade e processo demencial. Então, vamos lá...
Segundo um estudo publicado na revista Britânica Brain, a possibilidade de compensação neural ou plasticidade cerebral é maior em pessoas com alta escolaridade do que em pessoas que estudaram pouco em relação aos riscos para algumas doenças neurológicas, como a demência. Isso vale para análise do cérebro funcional, isto é: pessoas vivas. Depois da morte do ser humano a análise cerebral entre alta e baixa escolaridade já não faz diferença quanto à demência, ou seja, a doença atinge os dois grupos igualmente. Este fato faz sentido, pois a estrutura lesionada não pode ser modificada nos processos demenciais, mas a funcionalidade pode... como está sendo apresentado no presente estudo.
A pesquisa não avalia se o nível socioeconômico influenciou nesta correlação, porém sabemos que a alta escolaridade está relacionada com maior qualidade de vida e saúde. Apesar da dúvida o fato em si já é bastante interessante, ele nos mostra que quanto mais informações, conhecimento, cultura (supõe-se) e horas de estudo uma pessoa tem, mais flexibilidade cognitiva ela terá para compensar certos sintomas (e não a lesão em si) neurológicos ou até mesmo evitá-los!
“Para cada ano adicional que a pessoa passou no sistema educacional, houve uma diminuição de 11% nos riscos de ela desenvolver sintomas de demência, o estudo revelou.” Hannah Kaege
A plasticidade cerebral sempre foi estudada em lesões cerebrais e acreditava-se que sua otimização era na infância, talvez ainda seja, contudo atualmente sabe-se que muitos adultos também podem ter ótimos resultados de recuperação em casos de lesões no cérebro. Vide caso Herbert Vianna (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/hvianna.shtml).
Em outras palavras, este estudo é pioneiro por nos mostrar que além de valer o esforço cognitivo de todos nós que estamos lendo esse blog, a plasticidade cerebral também funciona para demências, pelos menos na compensação de seus sintomas ou como diz a autora: quem tem mais escolaridade compensa melhor os sintomas ou os esconde de forma mais convincente. Very cool!

Este blog foi escrito a partir de reportagem da BBC Brasil NO DIA 27/07, para mais informações: http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/index.shtml



domingo, 15 de novembro de 2009

COMPORTAMENTO ANTI-SOCIAL E NEUROPSICOLOGIA



Estudos recentes sobre o transtorno de personalidade anti-social (TPAS) demonstram interesse na investigação cerebral dos sujeitos em questão. Através de exames de imageamento cerebral funcional foi observado modificações estruturais nas áreas frontais e do hemisfério direito do cérebro nesta psicopatologia.

“Estudos de neuroimagem apontam o envolvimento de estruturas cerebrais frontais, especialmente o córtex orbitofrontal, e a amígdala. Também tem sido sugerido que prejuízos na função serotonérgica estariam associados à ocorrência de comportamento anti-social, já que pacientes com diagnóstico de TPAS apresentam respostas hormonais atenuadas a desafios farmacológicos com drogas que aumentam a função serotonérgica cerebral e redução da concentração de receptores serotonérgicos.” (http://www.scielo.br/pdf/rpc/v32n1/24019.pdf)

Mais recente ainda tem sido o interesse da Neuropsicologia sobre o assunto: qual seria o perfil neuropsicológico do TPAS?

No X congresso da sociedade brasileira de neuropsicologia (SBNP) em São Paulo foi dedicado um dia inteiro de conferências sobre o tema. O pesquisador espanhol Jordi Casanova explorou a construção do TPAS com uma visão integrada das neurociências e contextos sociais. Sabemos que esse transtorno tem um “gatilho” vindo do contexto social que é bastante relevante, apesar dos estudos neurobiológicos nos mostrarem a amplitude desta psicopatologia.
Casanova defende que as imagens e experiências que vivenciamos provocam “marcas” e essas informações são distribuídas pelo cérebro ao longo da vida. A memória semântica teria a capacidade de juntar estas informações espalhadas no córtex cerebral e o sistema límbico associa as imagens com outros aspectos cognitivos e emocionais, esses processamentos levam a construção da personalidade humana.
As observações perceptivas estimulam áreas neurais e os circuitos de imitação (pareofrontal, occipital e os neurônios espelhos) facilitando o sentimento de empatia. Os mapas cerebrais individuais se unem através do espaço e tempo auxiliando na construção de pensamentos abstratos, além de uma noção de historicidade pessoal.
Bem, o que Casanova quis mostrar com tudo isso, ou melhor, qual foi minha interpretação de sua conferência?
A partir do momento que pensamos em falhas no processamento cerebral, neuropsicológico e psicológico do TPAS, as quais estão incluídas a incapacidade de formação de empatia, o déficit do pensamento abstrato, uma linguagem verbal empobrecida, um baixo controle inibitório e alta impulsividade para agir, uma tendência a estabelecer rituais, entre outras características...Estamos abrindo a possibilidade para uma hipótese de que algo do contexto social (percepções, experiências, observações) iniba esses sistemas biológicos e de circuitarias neurais responsáveis pelo desenvolvimento destas funções.
Em outras palavras, creio que o pesquisador desejou apontar para características do contexto ambiental nos quais normalmente crescem sujeitos com TPAS (quase sempre ambientes com algum tipo de violência e abuso sexual) e a partir deste momento dá-se início a toda uma mudança biopsicossocial!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ANSIEDADE E IOGA



Todos os pesquisadores atuais que estudam ansiedade sabem que precisamos da mesma para nos manter alerta, atentos e vivos. Porém sabemos também que existe um ponto ótimo de ansiedade. Em outras palavras: se abaixamos muito o nível de ansiedade não somos funcionais o suficiente e se aumentamos muito o nível de ansiedade ficamos estressados!
Qual o ponto ótimo da ansiedade para um bom funcionamento cognitivo e físico no ser humano? Bem, como muitos aspectos humanos este ponto ótimo de ansiedade é individual. Algumas pessoas suportam (e até gostam) de lidar com mais pressão nos seu ambiente, enquanto outras perdem desempenho em tais situações.
Segundo, Atkinson e outros pesquisadores a ansiedade e o estresse estão relacionados com situações onde há perda de controle. Contudo mesmo em situações previsíveis e controláveis existem pessoas mais propensas a elevarem sua ansiedade podendo chegar ao nível de estresse. Este limiar de ansiedade está mais relacionado a componentes individuais onde o auto-conceito possa estar em jogo (fatores intrínsecos).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o estresse piora a saúde de 60% dos executivos nas grandes empresas e afeta 90% dos adultos em todo o mundo.
Numa pesquisa publicada no o globo (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2009/10/08/ioga-diminui-os-niveis-de-ansiedade-depressao-indica-estudo-da-unifesp-767964557.asp), mostrou-se que o estresse pode ser tratado através da ioga. Um estudo piloto foi realizado com 15 funcionários de uma empresa e comparado com 15 sujeitos do grupo controle, onde apenas os funcionários tiveram a intervenção das aulas de ioga. Dr. Ricardo Monezi Julião de Oliveira, professor do curso de pós graduação em Medicina Comportamental, do departamento de Psicobiologia da Unifesp acredita que intervenções como estas podem ser usadas como tratamento para a ansiedade.
O estudo concluiu que 76% dos sujeitos que passaram pela intervenção diminuíram a ansiedade para um nível mínimo de ansiedade, enquanto o grupo controle só 7% obtiveram tal diminuição.
Ou seja: sejamos ZEN, mas não tanto...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

IMPRINTING


Segundo um dicionário de tradução, a palavra imprinting na língua portuguesa (numa perspectiva da psicologia) significa: “aprendizagem rápida que ocorre durante um breve período receptivo, normalmente logo após o nascimento ou incubação, e estabelece uma duração da resposta comportamental para um determinado indivíduo ou objeto, como apego à mãe, filhos.” No dia a dia de nossa profissão chamamos o imprinting de um “comportamento inato” ou algo do tipo “impresso no comportamento”. A palavra está sempre ligada à comportamentos animais aprendidos de maneira automática, inata.
Este fenômeno também pode ser observado na vida celular, como na fecundação de animais sexuados, é uma estratégia evolutiva, na qual um dos genes silencia o gene oposto. Contudo, isso não tem nada a ver com competição entre homens e mulheres (tão usual em todos os tempos e espaços) é apenas um recurso de “poder” biológico.

“Assim que acontece a fecundação, começa a luta pelos genes maternos para silenciar os paternos e vice-versa, através de mecanismos bioquímicos ainda mal conhecidos, mas muito estudados.” (Varella, 2006)

É o caso do gene que determina o crescimento fetal como demonstrou o grupo de Princeton. Na suas pesquisas com ratos, eles colocaram fêmeas monogâmicas cruzando com machos poligâmicos, onde os filhotes nasceram com cerca de 20 gramas. E o inverso: machos monogâmicos com fêmeas poligâmicas, onde nasceram filhotes com cerca de 10 gramas.
Onde se conclui que a maior oferta de espermatozóides favoreceu as fêmeas, cujo gene prefere um feto menor e o gene masculino dá preferência pelo feto maior...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PSICOPATOLOGIA TRANSCULTURAL




As síndromes presente no atual DSM-IV representam apenas os transtornos que ocorrem predominantemente na cultura norte-americana, isto é, ela não é uma lista “universal”. O CID-10 que teria essa pretensão ou proposta. Porém existem opiniões de muitos pesquisadores de que é necessário a criação de normas de uma determinada cultura para que se possa então definir o que é a anormalidade (em cada cultura).
Atkinson e Colaboradores (2002) publicaram exemplos de classificação off DSM-IV. É um bom exercício para ampliarmos nosso conhecimento e fazer algumas associações.
A síndrome de Amok, encontrada na Malásia, Laos, Filipinas, Nova Guiné, Porto Rico e Navajos se caracteriza pelos seguintes sintomas: cisma seguida de comportamento violento, idéias de perseguição, amnésia, exaustão.
A síndrome de Ghost sickness observada entre os índios norte-americanos demonstra sintomas e: pesadelos, fraqueza, sensações de perigo, perda de apetite, desmaio, tonturas, alucinações, perda de consciência, sensação de sufocamento.
A síndrome de Koro, presente nas culturas da Malásia, China e Tailândia, revelam os curiosos sintomas de intensa e súbita ansiedade de que o pênis ou a vulva e os mamilos recuarão para dentro do corpo e causarão a morte.
A síndrome do susto, encontradas na América central e México, demonstra sintoma de perturbação do apetite e do sono, tristeza, perda de motivação e sentimentos de baixa-auto-estima. Os acometidos acreditam que sua alma deixou o corpo.
E por último a síndrome de Taijin Kyofusho, comum no Japão, onde os sintomas transparecem um medo intenso de que o corpo desagrade, constranja ou seja ofensivo aos outros.Como podemos observar fazendo uma gestalt dessas informações, algumas síndromes se assemelham com os transtornos de ansiedade, depressão ou mesmo esquizofrenia classificadas pelo DSM-IV, ainda que não esteja totalmente dentro dos critérios. Outras, porém, são extremamente peculiares dentro do contexto específico de algumas culturas. Como o Japão. Portanto esta pequena amostra corrobora com a necessidade de uma normatização intracultural, com o objetivo de sermos globalizados, porém coerentes e sensatos!