segunda-feira, 16 de março de 2009

A SEROTONINA E OS GAFANHOTOS



Uma reportagem científica, publicada na BBC (http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/7858996.stm), descreve uma pesquisa relacionando comportamento agressivos (em enxames de gafanhotos) e uma alta de serotonina no organismo destes animais. Foi demonstrado em laboratório que os gafanhotos, na fase gregária (enxames), liberam três vezes mais serotonina no organismo, transformando assim seus comportamentos.

Os gafanhotos passam a maior parte do tempo em fases solitárias e “calmas”, contudo quando estão na fase gregária, aumentam seus níveis químicos de serotonina, transformando seus comportamentos: tornam-se agressivos, mudam de cor (ficam mais escuros) e ganham força física. Durante estes enxames, estes pequenos insetos podem causar grandes problemas para alguns agricultores e fazendeiros na África e na China, segundo esta pesquisa, levando aos pesquisadores a abrirem caminho para novas idéias no controle de estratégia dos gafanhotos. Eles resolveram o problema através da inibição da produção de serotonina, isto é, convertendo os enxames para a fase solitária e calma dos insetos.

“A serotonina influencia profundamente o comportamento humano e sua interação social”. Em seres humanos, em contraste, a manutenção de altos níveis de serotonina é o objetivo de muitos antidepressivos!

O curioso desta pesquisa é que ela mostra um paradoxo em relação à serotonina, pois enquanto ela leva a um comportamento agressivo nos gafanhotos, ela também pode gerar um comportamento de timidez em seres humanos. Ou seja, o achado importante é de que a mesma substância química que causa uma timidez normal pode também levar a um comportamento de maior agressividade.

quarta-feira, 11 de março de 2009

TEPT



Uma nova forma de tratamento para pacientes com TEPT está sendo pesquisada por neurocientistas americanos (http://www.technologyreview.com/biomedicine/22187/). Eles estão testando drogas (o propranolol, medicamento utilizado para pessoas com pressão alta) e obtendo bons resultados: significativa diminuição dos sintomas ansiosos, assim como a extinção deles de forma mais definitiva!
O tratamento mais comum para pacientes com transtornos de ansiedade em geral são técnicas de exposição (in vivo ou in vitro) usada na Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), onde o paciente é levado gradativamente a se aproximar do “objeto”, o qual elicia o medo e a ansiedade relacionados ao trauma em questão. Contudo essa técnica de TCC é eficiente em parte, pois além de existir a probabilidade de um retorno dos sintomas pós-traumático em algum momento da vida do paciente com TEPT, a exposição ao tal objeto leva aos pacientes a um maior contato com a emoção de medo, e, portanto sofrimento, em relação ao próprio sintoma.
Bem, os cientistas sugerem que com o uso de propranolol exista um bloqueio dos componentes emocionais relacionados à memória de longo prazo. Ou seja: bloqueando o acesso a via emocional da memória, o paciente com TEPT elimina os sintomas de ansiedade pós-traumática de forma mais duradoura, pois se cortou a conexão neural daquela via que liga a emoção (neste caso, o medo, a área correspondente no cérebro é a amígdala), mas se mantêm intacta as vias das imagens mentais da memória. Isto é: o paciente lembra dos fatos e das imagens do trauma, mas não sente a mesma emoção de medo que vivenciava quando lembrava ou relembrava-os.
Será que podemos dizer que esta intervenção é um aprimoramento cognitivo? Acredito que não, pois estamos lidando com um transtorno psiquiátrico, porém será que podemos acreditar na extinção de sintomas como uma anestesia? Neste caso a anestesia é bem proveitosa, podemos dizer até que deveria fazer parte do tratamento!

quinta-feira, 5 de março de 2009

Outliers: o que define, afinal, a inteligência?




Dando continuidade a última postagem sobre os outliers, Gladwell escreve dois capítulos sobre a questão da inteligência: o que a define em nossa cultura? Como ela pode ser aproveitada ou desperdiçada?

Alguns dos pontos importantes abordados pelo autor são: os testes de QI e a genialidade. Alguns psicólogos estudiosos da inteligência defendem o fato de que um escore do QI a partir de 130 (entre 130 e 200, por exemplo) não faz muita diferença qualitativa, já que estamos lidando com pessoas muito inteligentes e provavelmente com diversos talentos. Porém se analisarmos sujeitos com QI de escore igual a 100 (média da população americana) até 130, esta diferença provavelmente será significativa. Ora, o que isto significa?

Bem, significa que pessoas muito inteligentes, não importando o quanto (acima do QI de 130), terá chances equivalentes de expressar seus talentos. Sendo assim, a diferença quantitativa neste caso é irrelevante. O que vai diferenciar os sujeitos, nestes casos, são oportunidades probabilísticas (sorte), habilidades sociais (saber lidar com autoridade, por exemplo), certa estabilidade emocional, o esforço para alcançar algo e porque não, certa competitividade e um elevado grau de auto-estima?

Um outro grupo de psicólogos investigou a importância da educação familiar (e não a formal) na formação intelectual (incluindo inteligência, criatividade, habilidades sociais, etc) das crianças, onde foram observadas diversas famílias durante 24 horas (por alguns meses). Estas famílias (de alta e baixa classe social) tinham seus filhos no ensino fundamental. Qual foi a observação que chegaram? Na família de alta classe social existe uma “aprendizagem orquestrada” enquanto na família de baixa classe social existe uma “naturalização” do aprendizado. No primeiro caso, existe um direcionamento para que as crianças saibam aproveitar seus talentos, lidar com autoridade, aprenda a questionar e enfim usufruam num ambiente onde as “idéias estão no ar”. Já no segundo exemplo a tendência familiar, era de não intervir no desenvolvimento “natural” da criança, assim como uma menor habilidade para lidar com autoridades e questionar regras.

Fiz uma observação destes fatos com minha filha, na verdade faço isso o tempo todo, reparei que ela percebeu que meu vestido tinha uma alça arrebentada, como estava no trabalho coloquei um clipe para segurar. Chegando em casa, fiz isso na outra alça também (como compensação para minha inabilidade para costurar e por achar esteticamente interessante). Minha filha de 7 anos observou a transformação do vestido e imediatamente pegou todos os clipes da casa e construiu vários objetos: colar, chaveiro, casa em miniatura! Esse é um dos critérios da criatividade, a utilização de um mesmo objeto para funções distintas, inclusive utilizando-o de maneira não convencional.

Talvez seja um pouco cruel este pensamento, contudo o autor chega à conclusão de que ser um sujeito inteligente proveniente de uma classe social alta ou ser um sujeito inteligente proveniente de uma classe social baixa faz toda a diferença!! Isso não é uma idéia determinista, mas apenas uma observação dos fatos numa amostra populacional.

terça-feira, 3 de março de 2009

OUTLIERS ou o que você fez (ou não fez) nas suas férias?




Malcolm Gladwell, autor das publicações “The tipping point” (O ponto de desequilíbrio) e “Blink”, escreveu recentemente “Outliers”, onde analisa vários casos de pessoas que estão fora da média (em termos estatísticos) ou em outras palavras: indivíduos fora de série.

É muito interessante perceber no texto de Gladwell, a quebra de tabus em relação aos outliers (que são quase sempre sinônimos de sucesso), e a valorização dos fatores: sorte, oportunidade, legados culturais, e consequentemente a desmistificação daquele sujeito brilhante, com QI altíssimo, de família rica, ou mesmo pobre, mas com esforço e força de vontade extraordinária. É óbvio que estas variáveis todas contribuem (de forma significativa) para um sujeito se tornar um outlier, contudo elas não são determinantes para eles. Afinal, para que serve o brilho intenso de um diamante, se estivermos no escuro?

Foi pensando assim que Gladwell examina cuidadosamente vários casos de outliers em diversas áreas do conhecimento: esporte, informática, música, direito, psicologia, antropologia e aviação, fazendo com que o leitor aumente o seu conhecimento em relação à percepção do todo e ao mesmo tempo reflita sobre pontos da cultura, como algumas arbitrariedades, que nos passam de maneira um tanto quanto invisíveis... e assim Gladwell e outros estudiosos se tornaram reis em “terra de cegos” ( digamos uma cegueira branca em que vivemos).

Vamos a um “caso” do livro: o que você fez nas suas férias!? Nada? Viajou? Foi à praia?? E seus filhos? Foram a livrarias?

Bem, eu li o livro outliers, entre outras atividades! E é justamente esse o ponto importante, colocado no capítulo 9 (A barganha de Marita) do livro em questão: a diferença significativa de aprendizagem, conhecimento, treino, cultura que podem ser adquiridos durante as férias escolares no desenvolvimento das crianças americanas. Pesquisadores observaram que no final do ano letivo as notas dos alunos de classes alta, média e baixa eram bem aproximadas em leitura (estudo realizado em escolas públicas). A tabela abaixo mostra o total das notas (conhecimento acumulado em leitura) de crianças de primeira a quinta séries do ensino fundamental:

Classe 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série 5ª série Total
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Baixa 55 46 30 33 25 191
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Média 69 43 34 41 27 216
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Alta 60 39 34 28 23 186
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O que podemos observar nestes dados? Que os alunos de baixa classe social americana (moradores de Baltimore, os quais vivem realmente com poucos recursos financeiros), totalizaram um escore maior que os alunos de alta classe social da mesma escola, ou seja, o ensino desta escola está bom. Agora, vamos observar a próxima tabela, que representa como as notas de leitura mudaram durante as férias de verão. Estes escores são de testes feitos pelos pesquisadores no retorno às aulas:

Classe Após a 1ª série Após a 2ª série Após a 3ª série Após a 4ª série Total
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Baixa -3,26 -1,29 2,74 2,89 0,26
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Média -3,11 4, 18 3,68 2,34 7,09
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Alta 15,38 9,22 14,51 13,38 52,49
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Como podemos observar depois das escolas escolares, a classe alta dá um enorme salto de acúmulo de conhecimento. Isso não é incrível? Então, voltemos à pergunta: o que você fez (ou não fez) nas últimas férias?