segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PSICOPATOLOGIA TRANSCULTURAL




As síndromes presente no atual DSM-IV representam apenas os transtornos que ocorrem predominantemente na cultura norte-americana, isto é, ela não é uma lista “universal”. O CID-10 que teria essa pretensão ou proposta. Porém existem opiniões de muitos pesquisadores de que é necessário a criação de normas de uma determinada cultura para que se possa então definir o que é a anormalidade (em cada cultura).
Atkinson e Colaboradores (2002) publicaram exemplos de classificação off DSM-IV. É um bom exercício para ampliarmos nosso conhecimento e fazer algumas associações.
A síndrome de Amok, encontrada na Malásia, Laos, Filipinas, Nova Guiné, Porto Rico e Navajos se caracteriza pelos seguintes sintomas: cisma seguida de comportamento violento, idéias de perseguição, amnésia, exaustão.
A síndrome de Ghost sickness observada entre os índios norte-americanos demonstra sintomas e: pesadelos, fraqueza, sensações de perigo, perda de apetite, desmaio, tonturas, alucinações, perda de consciência, sensação de sufocamento.
A síndrome de Koro, presente nas culturas da Malásia, China e Tailândia, revelam os curiosos sintomas de intensa e súbita ansiedade de que o pênis ou a vulva e os mamilos recuarão para dentro do corpo e causarão a morte.
A síndrome do susto, encontradas na América central e México, demonstra sintoma de perturbação do apetite e do sono, tristeza, perda de motivação e sentimentos de baixa-auto-estima. Os acometidos acreditam que sua alma deixou o corpo.
E por último a síndrome de Taijin Kyofusho, comum no Japão, onde os sintomas transparecem um medo intenso de que o corpo desagrade, constranja ou seja ofensivo aos outros.Como podemos observar fazendo uma gestalt dessas informações, algumas síndromes se assemelham com os transtornos de ansiedade, depressão ou mesmo esquizofrenia classificadas pelo DSM-IV, ainda que não esteja totalmente dentro dos critérios. Outras, porém, são extremamente peculiares dentro do contexto específico de algumas culturas. Como o Japão. Portanto esta pequena amostra corrobora com a necessidade de uma normatização intracultural, com o objetivo de sermos globalizados, porém coerentes e sensatos!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ALZHEIMER



Existem muitas doenças neurológicas, psiquiátricas ou até mesmo psicológicas que são conhecidas há muitos séculos, apenas mudando de nome na contemporaneidade. Contudo existem outras com a doença de Alzheimer que são realmente novas não havendo registro delas (da maneira como é hoje diagnosticada) num período de 200 anos em média.
Numa reportagem da BBC, os pesquisadores atribuem este fato, entre outros, ao aumento da expectativa de vida do idoso em países subdesenvolvidos. O psiquiatra Martin Prince ainda afirma que não se sabe as causas precisas da doença de Alzheimer e seu tratamento é direcionado para a diminuição dos sintomas não havendo uma “cura” para tal desordem neuropsiquiátrica.
Segundo Varella (2006) a população de homens e mulheres acima de 65 anos tem aumentado muito, tanto no Brasil, como em outros países, e esse aumento de longevidade faz que aumente a incidência da doença de Alzheimer no mundo contemporâneo.
A preocupação atual da ciência é a previsão de um aumento em grandes proporções desta doença demencial e a tendência atual para subestimá-la nas pesquisam em medicina. Estima-se que haverá 22 milhões de portadores desse mal em 2025 no mundo.
O estudo da neuropsicologia e neurociências nos mostram que algumas áreas cognitivas atingidas na doença de Alzheimer são possíveis de serem “treinadas” desde a infância até a idade madura. . São elas: a memória, a função executiva e áreas emocionais e de personalidade. Sabemos. que a memória é um cognição bastante importante, tanto para facilitar associações com outras informações registradas no nosso cérebro, como para nos proporcionar uma noção de self., sem memória perdemos nossa noção de “eu” e daí já podem surgir problemas ligados a personalidade. A função executiva (ligada principalmente ao córtex pré-frontal) esta relacionada a planejamento, manipulação de tarefas no tempo e espaço. Ora, perder essas habilidades cognitivas significa desorganizar o eixo da personalidade humana explicando assim, a gravidade dos sintomas.
Atualmente muitas pesquisas têm sido realizadas no sentido de entender a prevenção da doença de Alzheimer através do uso das conexões neurais, isto é, exercícios mentais (e também físicos) como forma de prevenir esse mal. Desde leituras, caça-palavras, quebra-cabeça, até jogos mais elaborados pode nos ajudar a exercitar o cérebro. Além é claro do movimento físico amplamente difundido e estimulado. Quem sabe as crianças podem contribuir nesse processo?Qual o ser mais corporal e lúdico do que elas?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

INSTINTO MATERNO



“O amor materno não constitui um sentimento inerente à condição de mulher, ele não é um determinismo, mas algo que se adquire. Tal como o vemos hoje, é produto da evolução social desde princípios do século XIX, já que, como o exame dos dados históricos mostra, nos séculos XVII e XVIII o próprio conceito do amor da mãe aos filhos era outro: as crianças eram normalmente entregues, desde tenra idade, às amas, para que as criassem, e só voltavam ao lar depois dos cinco anos. Dessa maneira, como todos os sentimentos humanos, ele varia de acordo com as flutuações socioeconômicas da história.” (http://www.redeblh.fiocruz.br/media/livrodigital%20(pdf)%20(rev).pdf).
O trecho acima baseado no livro O Mito do Amor Materno de Elisabeth Badinter (filósofa francesa), lido pela maioria dos estudantes de psicologia, antropologia e sociologia na década de 90 (o livro foi publicado na França em 1980) é contraposto aos pressupostos atuais da neurociência e talvez das ciências em geral.
Bem, se acreditamos em Darwin e na teoria da evolução conseqüentemente...e também se cremos (inclusive, atualmente, visualizamos) as mudanças neuroquímicas que ocorrem no cérebro feminino durante a gravidez e no pós-parto, podemos concluir, que por mais “inventado” que este conceito possa ser, pelos seres humanos do século XIX (interessado na indústria que este fato proporciona), ele (o instinto materno) tem algum propósito evolutivo ou não estaríamos aqui pra discutir o assunto!
A própria Badinter discute as criticas feitas pelos cientistas na época a respeito da questão da palavra instinto. Mas como esta é uma longa discussão, prefiro ir ao ponto: se para todas as regras existem exceções, porque não podemos ter mães que não se interessam pelos seus filhos? Ou ainda: como podemos saber se as mães que deixavam seus filhos com amas de leite ficavam bem com o fato? A pesquisa foi feita em relação ao destino dado aos filhos, mas nada sabemos sobre o estado psico-hormonal destas mães em questão...
Kinsley e Lambert (2006) fazem uma revisão sobre o tema e afirmam que em todos os mamíferos, as fêmeas sofrem profundas mudanças comportamentais durante a gravidez e maternidade, porque o que antes era direcionado para sua sobrevivência individual, passa a ser para os cuidados e bem-estar dos filhos. (Cientifica American, 2006)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

TEORIA DA EMPATIA-SISTEMATIZAÇÃO


TEORIA DA EMPATIA-SISTEMATIZAÇÃO
Nos últimos 50 anos, os neurocientistas têm demonstrado que o dimorfismo cerebral na espécie humana não se restringe à aparência física, mas está presente na configuração do cérebro.
Sabemos que em relação à estrutura cerebral, os homens possuem maior quantidade de substancia branca (mas não da cinzenta) e as mulheres um corpo caloso com mais volume.
Por causa desta disposição morfológica, as mulheres formam mais redes neurais e os homens tem em média de 10 a 20 milhões de neurônios a mais. Como conseqüência observa-se diferenças nas funções cognitivas em cada sexo: os homens demonstram maior habilidade visuo-espacial (interpretação de mapas, encontrar saída de labirintos, lidar com máquinas, etc) e as mulheres tem um melhor desempenho em tarefas ligadas a linguagem e a interpretação das emoções (sensibilidade social, fluência verbal, etc). Em parte isto se deve ao fato de que os as mulheres conectam mais os hemisférios cerebrais simultaneamente (maior corpo caloso) e os homens os usam um de cada vez (menor corpo caloso).
Segundo o neuropediatra Schwartzman as meninas nascem com uma maturação cerebral de quatro semanas a mais em relação aos meninos. O mecanismo responsável por este fato é a ação da testosterona no sistema nervoso. (exceção para casos de hiperplasia adrenal congênita, onde meninas nascem com aumento de testosterona).
Segundo Varella (2006) existe uma teoria na psicologia moderna chamada “teoria da empatia-sistematização”, onde os indivíduos podem ser classificados de acordo com sua maior habilidade de sistematizar ou estabelecer empatia.
Já podemos inferir que a maioria dos homens são mais sistemáticos, enquanto as mulheres são mais empáticas. Varella no seu texto faz uma brincadeira de que isso levado ao extremo faria os homens autistas e as mulheres intuitivas, além de grande desempenho em múltiplas tarefas!!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A GENÉTICA DA POPULARIDADE


“A popularidade de uma pessoa e sua habilidade de formar grupos sociais é, em parte, influenciada pela herança genética, sugere pesquisa das universidades de Harvard e da Califórnia, nos Estados Unidos.” (BBC, Brasil)

Pesquisadores americanos investigaram a influência da carga genética em um quesito relacionado à personalidade: a popularidade. Isto é, características pessoais como carisma, habilidade social e boa capacidade intrapessoal pode ser passado de geração em geração (será por isso que vemos muitos políticos seguindo a carreira na família!?).

A pesquisa realizada comparou a popularidade de irmãos gêmeos, sendo alguns fraternos e outros idênticos (N=1100). Os gêmeos idênticos demonstraram mais popularidade entre si do que os fraternos. Isto significa que deve existir algum valor adaptativo em relação a ser popular, pois vivemos em um mundo altamente “político”, no sentido que melhores conexões humanas (rede de relações) podem facilitar a sobrevivência de muitos seres humanos (talvez não só humanos).

"Uma das coisas que este estudo nos diz é que redes sociais são uma parte fundamental da nossa herança genética", disse James Fowler, da Universidade da Califórnia. "Pode ser que a seleção natural esteja atuando não apenas em coisas como se nós podemos ou não resistir ao resfriado comum, mas também quem vai entrar em contato com quem.” (BBC, Brasil)

O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

NEUROCIÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO




No seu livro “Borboletas da alma”, Drauzio Varella escreve sobre vários assuntos relacionados à ciência. Em um capítulo dedicado ao cérebro e funcionamento neural descreve estudos sobre redes neurais, plasticidade cerebral, condução sináptica e o funcionamento molecular destas células tão nobres. Varella menciona também em seu texto a neurociência do desenvolvimento, no qual ocorre um fenômeno interessante: a apoptose celular.
Apoptose é uma palavra grega que descreve a queda das folhas das árvores no outono, mas em neurociências seria uma espécie de suicídio em massa de neurônios mal adaptados ou em excesso. Explicando melhor: este fenômeno já é esperado geneticamente pelo organismo humano, pois na fase da embriogênese humana (quando ocorre a apoptose) existem 200 bilhões de neurônios circulando pelo cérebro e essa competição neural é necessária para termos os famosos 100 bilhões de neurônios!
“No melhor estilo darwinista de competição e seleção natural, sobrevivem à apoptose coletiva apenas os neurônios mais aptos, que conseguiram formar sinapses bem estruturadas” (Varella, 2006)