sexta-feira, 21 de novembro de 2008

HEMISFÉRIO DIRETO


Há um século atrás o hemisfério esquerdo (HE) era considerado dominante, pois além da localização da linguagem ele é considerado responsável pelo movimento voluntário. Contudo a partir da década de 40 do século 20, e pesquisas provenientes da segunda guerra mundial (lesões do hemisfério direito (HD)), houve um maior interesse no estudo deste hemisfério até então considerado mais passivo no cérebro humano. Foi Jackson (1942) quem deu o pontapé inicial, com a invenção de uma intervenção cirúrgica chamada splint brain, a qual possibilitava acesso independente às funções de cada hemisfério.
Muito se conhece a respeito do hemisfério esquerdo (HE), desde século passado vários pesquisadores investiram em estudos sobre as áreas cerebrais do lobo esquerdo do cérebro, um dos pesquisadores importantes foi Broca, com a descoberta da afasia motora (fala) uma das regiões importantes do HE referente à linguagem. Uma das hipóteses para a valorização do HE em detrimento do hemisfério direito (HD) foi a descoberta da localização da linguagem neste primeiro.
Atualmente, existem estudos a respeito das lesões no HD, alguns autores classificam o conjunto de sinais e sintomas observados após um acometimento neurológico no HD, como síndrome do HD – SHD. Segundo Fonseca, a SHD é, então, caracterizada por déficits nas funções cognitivas: atenção, percepção, memória, praxias, funções executivas, com a presença de anosognosia, heminegligência sensorial, prosopagnosia, alteração de memória visuo-espacial e de trabalho, dispraxia construtiva e disfunção executiva.
“Em relação ás especializações hemisféricas das funções cognitivas, há atualmente certo consenso na literatura. O HE é mais associado às habilidades de pensamento lingüístico, raciocínio analítico, memória verbal e produção e compreensão da linguagem. O HD, em contrapartida, é associado, às seguintes funções cognitivas: atenção, percepção, memória visuo-espacial,, esquema corporal, inteligência social e emocional, reconhecimento de expressões faciais e habilidades musicais.” (Myers, 2001 in Fonseca, 2006)
Como podemos analisar nos estudos atuais sobre a dicotomia entre os hemisférios cerebrais, o HD também atua de maneira ativa e essencial para o funcionamento cerebral global, pois a atenção e a percepção visual são funções cognitivas essenciais para nosso funcionamento cognitivo geral, inclusive influenciando a linguagem. Pode-se afirmar ainda que o HE é o hemisfério dominante do cérebro?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A METACOGNIÇÃO INTELIGENTE





Dando continuidade a última postagem, onde analisamos como um dos principais critérios sobre inteligência a metacognição (consciência ou reflexão sobre a própria inteligência). A partir deste ponto é possível pensar sobre os diversos conceitos de inteligência em culturas distintas. Pois afinal, se ser inteligente é poder analisar e pensar sobre os próprios pensamentos, idéias e conceitos... Por que não fazê-lo?
Seria interessante refletir o porquê de culturas distintas valorizarem “funções” ou “habilidades” tão diferentes para definir uma pessoa inteligente. Será que algumas culturas valorizam mais o “uso” (a prática daquela habilidade), enquanto outras se preocupam mais com a “capacidade”, mesmo que em potencial?
Explicando melhor... Algumas culturas consideradas primitivas (usando todas as ressalvas deste termo) preferem avaliar a inteligência de seus indivíduos em conseqüência do cargo que ele vai ocupar, como se fosse um RH contemporâneo. Portanto, em algumas tribos é mais interessante colocar como navegador, um indivíduo que saiba se guiar bem através da constelação do céu ou tenha algum conhecimento a respeito das leis naturais como vento, marés, etc. Se algum neuropsicólogo fosse avaliar hipoteticamente o mesmo sujeito através de testes neuropsicológicos, provavelmente o avaliaria como tendo uma boa percepção viso-espacial, uma boa memória semântica de longo prazo, talvez uma memória de trabalho e a função executiva eficientes. Porém, muito provavelmente, este avaliador daria um resultado geral do coeficiente de inteligência (QI) baixo para este indivíduo, caso ele não executasse bem todas outras funções cognitivas, como pensamento lógico-matemático, linguagem, criatividade e representação do conhecimento por exemplo. Já se ele fosse avaliado pelas teorias das inteligências múltiplas (Gardner), teria a inteligência viso-espacial bem acima da média. No entanto, segundo essa teoria, um jogador de futebol pode ter um escore alto em inteligência corporal, e por isso ser considerado um sujeito inteligente (nesta área específica de habilidade), pois como vimos é uma teoria construída em módulos.
Então: esse sujeito da tribo africana é inteligente afinal?
Imaginemos a situação oposta: Se Albert Einstein resolve ser “avaliado”para alguma trabalho numa tribo africana, será capaz de desenvolver alguma atividade que não seja intelectual? Será considerado inteligente pela tribo local e como eles fariam para avaliar esse constructo? Pelo uso ou pela capacidade? Façamos uma metacognição sobre o assunto...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O QUE É A INTELIGÊNCIA, AFINAL?



Esta é uma pergunta que muitos pesquisadores se fazem até hoje, tanto psicólogos, médicos, neurocientistas e até mesmo filósofos. Este conceito apareceu pela primeira vez na língua inglesa no século XII e até hoje levanta muitas questões. Podemos associar a inteligência somente ao pensamento lógico-abstrato? Relaciona-se com a noção de criatividade e resolução de problemas? E com a emoção? Será que os testes de inteligência utilizada atualmente cumprem realmente com a sua função? Quais os modelos de inteligência são mais fidedignos?
O conceito de inteligência é bastante controverso entre os autores do assunto, porém existem três pontos em que eles chegam a um acordo:
1. Capacidade de se adaptar ao ambiente, levando em consideração a experiência e os aprendizados anteriores.
2. A importância da metacognição, a possibilidade de se pensar, refletir ou ter consciência em ralação aos próprios pensamentos.
3. Considerar a relevância da cultura e do contexto em que vive aquela população.

Podemos afirmar, a partir da perspectiva da psicologia cognitiva, que a Inteligência é um conceito que “amarra”, une ou transita por todas (ou quase) as funções cognitivas: memória, atenção, criatividade, resolução de problemas, representação, percepção, linguagem, e o processamento de informação.
“Resumindo, inteligência é a capacidade para aprender a partir da experiência, usando processos metacognitivos para melhorar a aprendizagem, e a capacidade para adaptar-se ao ambiente circundantes, que pode exigir diferentes adaptações dentro de diferentes contextos sociais e culturais” (Stern Berg, 2005)
Ao longo da história da psicologia, temos vários modelos de inteligência, iniciando com Galton, no final do século 19 até Gardner e Weschler (contemporaneidade). Ambos criaram suas teorias: “Inteligências Múltiplas” (Gardner) e o modelo de “Inteligência Geral” (QI) e a criação de testes para crianças e adultos (WISC e WAIS – Weschler). Só para termos uma idéia, o primeiro (Galton) avaliava a inteligência a partir de parâmetros físicos (força física, discriminação de peso, por exemplo) e os últimos levam em consideração algumas tarefas (Weschler) e módulos (Gardner) diferentes entre si, Weschler trabalha com um escore geral, já Gardner utiliza a idéia de inteligência de forma modular, dando autonomia a cada uma.
Existe ainda uma riqueza enorme de pesquisas sobre inteligência aplicadas em culturas e contextos distintos, mostrando-nos que este é um constructo que deve ser analisado de diversos pontos de vistas, como o pensamento linear ocidental e o dialético oriental, mas isso é assunto para outra postagem!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

DISTRAÍVEL OU NÃO DISTRAÍVEL:EIS A QUESTÃO!


Uma pesquisa realizada por Foster e Lavie (http://scienceblogs.com/cognitivedaily/2008/11/some_people_are_more_distracti.php?utm_source=mostactive&utm_medium=link) demonstra que a atenção não é só uma função cognitiva, ela é também uma característica de personalidade. Isto significa que existem pessoas mais distraíveis e outras menos distraíveis. Se esta característica é um fruto da cultura, do ambiente, escolaridade já uma outra questão...
Segundo estes pesquisadores, existe uma pré-disposição (inata?) para algumas pessoas se distraírem mais facilmente que outras, ou seja, elas podem estar em ambientes tranqüilos ou agitados que sua atenção será menor do que de outras pessoas (que não são tão distraíveis). Isto seria uma característica individual. O ambiente, neste caso, é e não é determinante, pois se por um lado o ambiente silencioso seria potencialmente mais adequado para o “high” CFQ (mais distraíveis), ele também não determina que o indivíduo vai aumentar sua atenção, ele pode encantar-se com a mancha na parede... Por outro lado, o ambiente barulhento não faz que sua atenção piore em relação aos indivíduos “low” CFQ (menos distraíveis). A tabela abaixo mostra acima.

Portanto podemos pensar que os indivíduos distraíveis deviam fazer algum tipo de treinamento ou TCC (terapia cognitiva comportamental) para melhorar seu desempenho nas tarefas. Pois a aprendizagem não fica prejudicada com este tipo de comportamento? Será que os pesquisadores fazem alguma relação destes tipos de indivíduos com o TDAH? Penso que não, trata-se de outro componente.
O ambiente com baixa carga de estímulos não atrapalha o indivíduo low CFQ, porém NÃO AJUDA MUITO O SUJEITO COM High CFQ. Contudo se for necessário algum tipo de atenção seletiva em uma grande festa ou em um show (onde tenham muitos estímulos) o desempenho dos dois grupos será o mesmo: péssimo! É melhor aproveitar a festa ou o show!!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Amor e ódio: iguais ou opostos?





Pesquisadores descobriram (http://www.independent.co.uk/news/science/scientists-prove-it-really-is-a-thin-line-between-love-and-hate-976901.html) haver uma linha muito tênue entre os sentimentos de amor romântico e o ódio. Um fato a princípio surpreendente, já que encaramos estes sentimentos como opostos. Serão mesmo lados contrários da mesma moeda?
A pesquisa demonstra através de imageamento cerebral que as áreas cerebrais atingidas por um sentimento (amor romântico) é muito semelhante às áreas atingidas pelo outro (ódio). Os estudos demonstram que esses sentimentos podem levar a atos e comportamentos bastante similares: gestos de heroísmo e crueldade. É mais ou menos fácil admitirmos nossa “crueldade” em relação a pessoas que temos algum tipo de desafeto. Mas quem nunca foi cruel nos seus sentimentos (ou pensamentos?) diante de uma rivalidade amorosa ou mesmo em relação ao objeto amado?
O sentimento de ódio é sempre visto como um “mal” que deve ser eliminado do vocabulário humano, porém muitas vezes um sentimento extremo de amor (a paixão) pode ser igualmente devastador , como o crime passional por exemplo.
As áreas do cérebro relacionadas a esses sentimentos são: a insula e o putâmen, ambos situados no sub-córtex do cérebro. A insula está ligada a respostas em relação a algum estímulo aflitivo e o putâmen está ligado a estímulos aversivos, reação de desprezo, assim como a ação e movimentos físico (preparação pra atos agressivos ou contexto de disputa). Basicamente, os pesquisadores definem essas áreas como detectoras de sinais aflitivos!
Bem, podemos inferir a partir deste estudo que o amor e o ódio não devem ser sentimentos opostos propriamente, dado ao grau de intensidade e “paixão”, além do potencial destrutivo que ambos possuem. Talvez possamos pensar no altruísmo como um contraste do amor e ódio. E também nos faz refletir sobre a idéia de que muitas vezes, os opostos falam da mesma coisa! (acho que esta frase define muito bem este experimento).

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

VISÃO, TÊNIS E ERROS PERCEPTUAIS



Uma pesquisa recente demonstrou que são comuns os erros perceptuais em juízes de jogo de tênis quando a bola cai naquele limite da linha, entre o dentro e fora da quadra de tênis. Segundo essa pesquisa há mais erros quando a bola foi percebida como “fora” da quadra do quando “dentro” desta. De 83 erros, 70 foram percebidos erroneamente como “fora” da quadra. Confira o link: http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/7693396.stm
Porque isto acontece? Pois existe uma defasagem de centésimos de segundos entre a imagem recebida pela retina e a informação consciente desta, a decodificação de objetos no espaço é uma tarefa relativamente complexa, pois o cérebro tem que seguir não apenas a trajetória do objeto, mas também o movimento dos olhos relativos ao objeto é neste ponto que existe uma lentificação de processamento entre a imagem chegar aos olhos e a resposta consciente da localização da bola. Como a bola de tênis é muito rápida tem-se a ilusão do movimento ter sido ligeiramente maior (mais extenso) do que realmente é.
As maneiras de resolução para este problema seriam nada práticas: uma delas seria jogar tênis em quadras de argila, ficando a marca exata do lugar onde ela caiu... ou a invenção de um método de radar que conseguisse superar esse desafio.
O professor George Mather da universidade de Sussex acredita que esses erros podem ser não apenas por causa deste processamento cerebral, mas também podem estar relacionados ao estágio de decisão (tomada de decisão) para identificação da bola na linha. O que ele indaga que poder ser mais bem investigado em outras pesquisas seria a respeito do motivo pelo qual a nossa percepção erra mais pra uma visão “fora” do que “dentro” da quadra.