terça-feira, 28 de outubro de 2008

É POSSÍVEL DIVIDIRMOS NOSSA ATENÇÃO ENTRE DUAS OU MAIS TAREFAS?


É POSSÍVEL DIVIDIRMOS NOSSA ATENÇÃO ENTRE DUAS OU MAIS TAREFAS?
Uma matéria no New York Times baseada nas pesquisas de Earl Miller, professor de neurociência do a Massachusetts Institute of Technology e David E. Meyer, professor de psicologia da University of Michigan, concordam entre si que a execução de duas ou mais tarefas simultaneamente é uma “ilusão”. Os pesquisadores relatam que é possível fazer, mas com perdas de atenção e qualidade, pois nosso cérebro tende a manter o foco em uma tarefa, normalmente a mais complexa. Mais detalhes: http://www.nytimes.com/2008/10/25/business/yourmoney/25shortcuts.html?pagewanted=1&_r=1&em.
Portanto realizar alguns tipos de tarefas ao mesmo tempo pode ser perigoso ou até mesmo fatal, como dirigir e escrever um texto (mensagens no celular) ou um médico cirurgião operar e falar no telefone, por exemplo. The RAC Foundation, a British nonprofit organization fizeram uma pesquisa mostrando que dirigir e escrever um texto ao mesmo tempo, leva a uma queda de velocidade (de processamento) em 35%, ou seja, a concentração do motorista fica 35% mais lenta (a mesma proporção dos motoristas que dirigem depois de beber)! Isso significa que medidas como a lei seca podem ter um embasamento no funcionamento cognitivo humano como prova a pesquisa acima.
Gloria Mark, professora de informática e co-autora das pesquisas afirma que no nosso cotidiano somos levados a interromper ou descontinuar nossas tarefas, seja por conta própria ou pelos outros. Isso, segundo a pesquisadora leva a uma maior rapidez, mas menor produção ou qualidade. Isto pode ser relacionado com o nosso “span” de atenção, o qual não é muito grande. Outro ponto não é tão intrínseco, mas extrínseco a mente: nossa cultura num certo sentido busca a rapidez e superficialidade das coisas.
Por isso eles sugerem: carpem diem!! E dêem a atenção que todos os momentos podem demandar...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

ESCALANDO A MENTE



Alpinistas de alta performance podem ter pequenos danos cerebrais causados por anoxia, durante escaladas em altitudes muito acima do nível do mar..., é o que dizem os cientistas italianos em suas pesquisas com alguns destes esportistas, em artigo publicado no Journal of neurology europeu (http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/7676028.stm).
Os pesquisadores escanearam o cérebro de 9 alpinistas de alta performance, todos do sexo masculino, os quais chegaram ao topo de uma alta montanha sem o uso de oxigênio “extra”. Este grupo foi pareado com um “grupo-controle” (sujeitos da mesma idade e sexo, não-alpinistas). Mediu-se, através de MRI, se havia alguma doença ou dano neurológico.
Oito semanas depois... Quando os alpinistas retornaram de suas escaladas, o cérebro foi escaneado novamente e foi detectado uma “sutil” diferença na densidade e volume de massa cerebral, especialmente em duas áreas: trato piramidal esquerdo e giro angular. Ou seja, os cérebros dos alpinistas estavam levemente alterados em comparação ao “grupo-controle”.
Foram aplicados nestes alpinistas e no grupo controle, testes neuropsicológicos, avaliando: memória, planejamento, função executiva, entre outras funções executivas. Observou-se também um desempenho um pouco abaixo da média nesta pequena amostra da população de alpinistas de alta performance.
Os pesquisadores envolvidos na pesquisa acreditam não ser apenas uma única expedição responsável por este dano “sutil” no cérebro dos alpinistas, mas a repetição de algumas viagens, tornando o efeito acumulativo.
Esta notícia nos faz pensar sobre o custo/benefício entre alguns comportamentos humanos, e o risco, ou seja, mesmo estando conscientes de alguns riscos e danos, o ser humano prefere, muitas vezes, viver a aventura e a adrenalina de uma forte emoção. Podemos julgá-los por isso?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES





Jake Joung escreve seu post num blog de neurociência (http://scienceblogs.com/purepedantry/2008/10/brain_activation_during_hypoth.php?utm_source=readerspicks&utm_medium=link), não sei nada sobre ele ou a respeito do seu blog, mas faço inferências sobre o assunto. Será que Jake é psicólogo, médico, ou outro tipo de cientista? Não sei, mas formulo a hipótese de que ele é um pesquisador em neurociências ou que está apenas fazendo blogs para seu orientador. Se minha hipótese está correta ou não é irrelevante, porém o fato de eu estar a formulando é o objeto de estudo desta pesquisa em questão. Vamos começar nossas formulações hipotéticas...
Kwon et al. se propuseram a scannear o cérebro de algumas pessoas durante tarefas de formulação de hipótese, então, enquanto eu estava imaginando coisas sobre ele e seu campo de estudo, meu cérebro poderia estar sendo mapeado para uma verificação de áreas cerebrais funcionais durante o processamento de meus pensamentos. Contudo houve mais sofisticação nas hipóteses dos pesquisadores, pois se medimos o funcionamento das áreas cerebrais com o método da fRMI durante uma formulação de hipótese, podemos cair no erro de estar medindo várias funções cognitivas juntas. Algumas maneiras dos cientistas resolverem este problema seria fazer um treinamento em formulação de hipóteses e comparar com um grupo não treinado (mas que faz a formulação de hipóteses usando seus próprios recursos). Outro caminho seria mapear pessoas com lesões cerebrais. Eles optaram pela primeira opção.
A proposta da pesquisa é: mapear o cérebro de 18 mulheres, destras, pós-graduadas e dividi-las em dois grupos:
1) Treinamento em formulações de hipóteses com algum grau de sofisticação. Como se eu fosse treinada para formular uma hipótese de que Jake (o autor do post que me inspirou) pudesse ser um cientista que pretende moldar o cérebro de algumas pessoas para torná-las mais hábeis em formulações de hipóteses.
2) Ausência de treinamento em formulação de hipóteses.
Os pesquisadores queriam descobrir:
· Quais áreas do cérebro são mais ativadas durante a formulação de hipóteses.
· Estas áreas estão mais funcionais no grupo que passou por treinamento em formulação de hipóteses?
Bem, qual grupo se sai melhor na tarefa? O grupo que foi treinado se sai melhor nas suas respostas, ou seja, respondem melhor às tarefas propostas.
Quanto ao imageamento cerebral, Kwon ET AL descobrem que o giro frontal superior e inferior (com predominância para o hemisfério esquerdo) são as áreas mais ativadas no grupo que foi treinado para formular hipóteses.

Jake e eu concordamos com a idéia de que existem alguns problemas nestas conclusões: o “n” muito baixo é um deles, outro foi o fato de ser uma amostra só de mulheres destras, o que pode mostrar certo enviezamento na pesquisa. Outro problema seria como termos a certeza destas áreas cerebrais serem exclusivas de formulação de hipóteses e não abranger o que chamamos de função executiva?
Os méritos do paper também são muitos: visualização de funções cognitivas utilizando fRMI “in vivo” e a cores: avaliação de performance e treino de tarefa ao mesmo tempo! Mais uma descoberta incrível: podemos treinar nossas capacidades de formular hipóteses e ficarmos melhores nesta tarefa!
Concluindo este longo post, vamos aprender com kwon e Jake a otimizar nossa plasticidade cerebral, usando cada vez mais (e com qualidade) a massa cinzenta que nos foi dada!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA: UMA VISÃO PSICOLÓGICA


Finalmente fui assistir ao polêmico filme, inspirado no romance do escritor português José Saramago. E, como quase toda obra com algum nível de complexidade, cabem várias leituras e interpretações de ângulos distintos (pra usar uma palavra de referência visual) (poderia ser posições, de referência cinestésicas...). Podemos pensar em Foucault, Machado de Assis, Freud, Skinner, Deleuze/Guatari ou algum antropólogo contemporâneo. Mas, vou puxar a sardinha pro meu lado e escolher o ângulo que mais me interessa: o psicológico, e mais ainda com um foco na neurociência.
Um dos focos (pra continuar na linguagem visual) é óbvio: a própria visão. Sabemos que a visão é entre as vias perceptivas, a mais complexa e elaborada no ser humano, seu aparato fisiológico é de grande refinamento e sensibilidade em termos neurofisiológicos.
“O sentido da visão é proporcionado aos animais pela interação da luz com os receptores especializados que se encontram na retina. Esta é um “filme inteligente” situado dentro de um órgão - o olho - que otimiza a formação de imagens focalizadas e precisas do mundo exterior. O olho é uma câmera superautomática capaz de posicionar-se na direção do objeto de interesse, focalizá-lo precisamente e regular a sensibilidade do “filme” automaticamente de acordo com a iluminação do ambiente.” (Lent, 2005)
Além deste aspecto da visão (que, aliás, veio a calhar por estarmos falando de um filme), tem inúmeros outros, como por exemplo, a decodificação que nosso aparato perceptivo (retina, ou área occipital do córtex cerebral) faz dos estímulos ambientais estão muito relacionados com uma seleção de imagens, às vezes não percebemos (ou percebemos em demasia) algumas cores, profundidades e formas. Enfim, este tema é vastíssimo e para mais detalhes técnicos sobre a visão, indico: http://www.landeira.org/pubs/2008/Vision.pdf.
Então, fazendo um paralelo entre filme e livro (de mesmo nome), a leitura é como se fosse uma “visão cega” do filme, vamos construindo as imagens com nossa imaginação e em tempo particular. Da mesma forma que decodificamos os estímulos do ambiente, também podemos fazer isto com as imagens construídas em nossa mente: enxergamos o que queremos, omitimos, damos um maior brilho ou luminosidade a alguns objetos. Porém no filme isto não nos é permitido, a imagem nos é dada em tempo real. É outra perceptiva, também interessante, principalmente “os brancos” da cegueira branca. Será que a visão pertence mais à área cerebral do que a perceptual? Acredito que não, o filme nos diz que a visão é “real”, concreta, mas também subjetiva, metafórica. Uma não existe sem a outra.
Entretanto o filme me remeteu também a outros aspectos do humano. Como se aquele isolamento dos cegos pudesse ser um experimento comportamental de Skinner. Obviamente sem a intenção de tanta crueldade humana, apesar dela estar lá (como afirma Freud em O Mal estar da civilização). Porém como experimento teria que haver controle das variáveis, ambiente experimental e ética. Contudo, quantos elementos Saramago e Meireles nos fizeram enxergar a respeito do comportamento de seres humanos adultos, com escolaridade e classe social heterogênea, ambos os sexos, todos acometidos por algo em comum: a cegueira?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

“DO SINTOMA À SÍNDROME” PARTE 2


“Segundo a concepção psicopatológica, baseada na patologia geral e na escola Jasperiana, os cursos crônicos dos transtornos mentais podem ser de dois tipos: processo e desenvolvimento.” (Dalgalarrondo, 2000)
O processo está relacionado a uma transformação lenta e sutil da personalidade, de natureza endógena e aparece como uma conseqüência de alterações psicológicas incompreensíveis.
O desenvolvimento de um transtorno mental tem como referência a evolução psicologicamente compreensível de uma personalidade. Dentro desta perspectiva, podemos pensar que existem indivíduos com alguns desvios de personalidade ou outros não, determinando os transtornos de personalidade e as neuroses. É possível a observação de um sentido, uma trajetória mais “explícita” do desenvolvimento da doença.
Os fenômenos agudos ou subagudos classificam-se em crises ou ataques, episódios, reações vivenciais, fases e surtos.
A crise ou ataque caracteriza-se, geralmente, pelo surgimento e término abruptos, durante segundos, ou minutos, raramente horas.
O episódio tem geralmente a duração de dias até semanas. Tanto o termo crise quanto o termo episódio nada especificam sobre a natureza do fenômeno mórbido, ambos os termos servem para denominar apenas o aspecto temporal do fenômeno. É usado para situações onde não se tem condições de precisar a natureza do fenômeno mórbido.
Segundo Dalgalarrondo, a personalidade pré-mórbida e o os sinais pré-mórbidos são aqueles elementos identificados em períodos da vida que são anteriores ao surgimento da doença propriamente dita, normalmente na infância. Quando trata-se do início do transtorno, usa-se os termos sinais e sintomas prodrômicos, que representam de fato a fase precoce, inicial do adoecimento.
Estas afirmações nos ajudam a pensar que um transtorno ou uma doença mental não surgem repentinamente, existem alguns sinais e sintomas no desenvolvimento ou no processo da personalidade destes indivíduos, os quais aparecem de maneira muitas vezes insidiosa ou mesmo explícita ao longo da vida. Portanto quando criamos hipóteses em relação ao perfil neuropsicológico em alguns tipos de transtorno, estamos acreditando que existe o conceito de personalidade. Conceito inseparável da idéia de cultura, família, contexto, individualidade. Questões com temas intermináveis!

domingo, 5 de outubro de 2008

“DO SINTOMA À SÍNDROME”



Nenhuma síndrome ou transtorno mental surgem de um dia para o outro, até que se possa percebê-la como tal, alguns sintomas e sinais foram se desenvolvendo durante a vida do indivíduo. Dalgalarrondo (2000), guiando-se pelo modelo de Jaspers, situa esse processo em duas perceptivas fundamentais: os transfundos das vivências psicopatológicas e os sintomas emergentes. Estes dois aspectos se relacionam como se fosse uma imagem de figura (sintomas emergentes) e fundo (transfundos das vivencias psicopatológicas).
“Desde o século passado os clínicos têm percebido que nem todos os aspectos da manifestação de uma doença derivam diretamente do processo patológico de base. Nesta linha, o psicopatólogo alemão Karl Birnbaun (1878-1950) propôs que se discriminassem três fatores envolvidos na manifestação das doenças mentais.”
Os três fatores que Birnbaun citam são: o fator patogenético propriamente dito diz respeito à manifestação dos sintomas diretamente relacionada ao transtorno mental de base: o humor triste e o desanimo na depressão ou as alucinações auditivas e a percepção delirante na esquizofrenia, por exemplo. O fator patoplástico, que inclui manifestações relacionadas à personalidade pré-morbida do doente e aos padrões de comportamento relacionados à cultura de origem do paciente. Estes são fatores externos e prévios á doença, porém que terão alguma intervenção ou influencia sobre ela. Ainda existe o fator psicoplástico, o qual é relacionado com eventos e reações do indivíduo e do meio psicossocial decorrentes do adoecer, modos de reação aos conflitos familiares, às perdas sociais, e ocupacionais associadas ao episódio da doença.
Diante desta visão, podemos pensar nas doenças mentais como: processo, desenvolvimento, surto, reação, crise e episódio. Analisaremos estes pontos na próxima postagem.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

ESTUDANDO O TRANSTORNO DE PÂNICO


Acredito que os estudiosos da mente se perguntam se o Transtorno de pânico (TP) é uma doença da modernidade, ou se já existia em “outros tempos”, porém com diferenças de sintomas e nomenclatura. Quando exatamente surgiu esse tipo de transtorno? Essas são perguntas sem respostas definitivas.
O manual de psicopatologia DSM-IV classifica o TP como um transtorno de ansiedade que pode vir acompanhado ou não de outro sintoma chamado agorofobia. Para este manual, o TP tem que apresentar alguns critérios para definir sua classificação dentro deste grupo. Um dos critérios seria: o paciente ter tido pelo menos quatro dos treze sintomas de ataque de pânico, como: sensação de sufocamento, taquicardia, sudorese, desconforto abdominal, entre outros.
A CID-10 classifica o TP dentro de “outros transtornos de ansiedade”, e o coloca dentro do grupo das fobias, como um sub-componente da agorofobia. Isto significa que pode haver a agorofobia com transtorno de pânico ou sem transtorno de pânico, aqui o TP entra como secundário, ou seja, não é o sintoma principal.
Alguns autores também fazem uma associação do TP com algumas patologias mais antigas ligadas à ansiedade, como a neurose de angústia descrita por Freud em 1895.
A pertinência do assunto é pensarmos nas causa e desenvolvimento de uma doença que tem aumentado muito nos últimos tempos e aponta para uma angústia em forma. de ansiedade que talvez reflita os conflitos que nossa cultura ocidental contemporânea vivencia. Será que em outras culturas (com índice menor de stress) existe esse transtorno? Haverá diferença “quantitativa” de indivíduos com TP nas cidades urbanas e na área rural? Existe uma predisposição genética para a ansiedade?