sexta-feira, 18 de julho de 2008

O ESCAFANDRO E A BORBOLETA



Dando continuidade ao tema sobre a consciência, discutiremos este foco em “O escafandro e a borboleta”, filme de Julian Schnabel (EUA, 2007) baseado no livro homônimo,que aborda a história real de Jean Dominique Bauby, editor da revista Elle até o momento do acidente. Bauby tinha 43 anos quando sofreu um AVC, de etiologia desconhecida, com seqüelas neurológicas de uma síndrome específica denominada Locked-In:

“Conhecido como síndrome de desconexão cerebromedullospinale, pseudocoma ou ventral Pontina síndrome. Ao contrário do estado vegetativo persistente, em que a parte superior do cérebro são danificadas e as porções menores sejam preservadas, esta síndrome é causada por danos causados às partes específicas do cérebro e tronco cerebral inferior, sem danos para o cérebro superior (diencefalo e telencéfalo).” (Wikipédia)

Pacientes que apresentam a síndrome Locked-In estão plenamente conscientes. Eles sabem exatamente onde estão os seus braços e pernas e, ao contrário dos pacientes paralisados ainda pode receber sensações tátil e de dor. Alguns pacientes têm a capacidade para mover alguns músculos faciais. A maioria dos pacientes com a síndrome Locked-In, não recuperam o controle motor, mas diferentes equipamentos estão disponíveis para ajudá-los a se comunicar.

Os doentes com a síndrome Locked-In dizem que se sentem na maior parte bastante calma, e alguns afirmam estar um pouco "triste”. Este é o oposto de pânico e de terror que poderia ser assumida em pessoas conscientes de que não podem mover ou falar. Estes dados indicam que as emoções são devidos a interpretações das sensações corpo. Uma vez que as pessoas que estão no estado locked-in não ter um grande sentido de corporalidade (propriocepção), o cérebro não recebe feedback indicando o perigo.

Bauby tinha sua consciência intacta, mas seu corpo estava “ausente”, como uma prisão, ou, pra usar suas palavras, preso num escafandro, imobilizado no seu self? Parte de sua mente funcionava muito bem: tinha emoções, pensamentos, compreensões, imaginações, memórias. Sua consciência central e ampliada estavam intactas, eram a sua borboleta. Contudo seu eu, sua noção de self e de pertencimento, estava danificada, pois segundo os autores que temos visto até agora, a autoconsciência depende do corpo, sua imagem corporal está alterada modificando completamente este sentimento que temos de eu. Mas o quanto isso é verdadeiro? Bauby aprendeu a se comunicar com o piscar de um olho, e assim soletrou um livro inteiro. Não podemos afirmar que sua autoconsciência estava alterada, sua mente funcionava, mas a perda do corpo faz com que ela seja a mesma de antes? Possívelmente não. “Pois o ego é antes de tudo um ego corporal” (Freud) e assim a borboleta se liberta do escafandro...

Um comentário:

Íris Moreno disse...

Olá, Marta,

O síndrome "Locked-in" foi daqueles que mais me fascinou ...

Termos conhecimento de nós próprios e do meio que nos rodeia, mas estarmos presos dentro de nós mesmos; é uma lição de vida!

Eu tenho a mania de estender os conhecimentos científicos para o mundo confuso da nossa esfera emocional e psicológica. Com este síndrome fiz o mesmo ...

E pensei, quantas pessoas existem assim ?! Presas dentro de si próprias não por uma causa orgânica idiopática, mas por outras razões tão vastas e complexas ?!

Se ao menos as pessoas se decidissem, uma vez na vida que fosse, a serem borboletas, certamente conheceriam uma felicidade merecida.

Obrigada pelo "post"! Lembrou-me que tenho que ver este filme.