segunda-feira, 12 de maio de 2008

Mais um pouco sobre a dopamina, parte 1


Como vimos na última postagem, a dopamina está relacionada com a atividade motora (córtex motor, substancia nigra) entre outras funções. Este neurotransmissor atua também nos processos da atenção e memória. Vamos comentar uma experiência realizada com pacientes encefálicos num hospital americano na década de 70 pelo neurologista Oliver Sacks, onde a dopamina e a L-dopa estavam envolvidas. Esta experiência foi relatada em Tempo de despertar (livro e filme com o mesmo nome) com toda a riqueza de detalhes pelo próprio Sacks. A idéia aqui seria analisarmos a importância da química, neste caso dos neurotransmissores, no cérebro, personalidade e comportamento humano.

A doença do sono (encefalite letárgica) tinha manifestações tão diversas que dois pacientes nunca manifestavam os mesmos sintomas, eram como se fossem doenças muito distintas entre si. Estes sintomas podiam variar de forma que diversos diagnósticos eram dados: esquizofrenia epidêmica, parkisonismo epidêmico, esclerose disseminada epidêmica, raiva atípica, poliomielite atípica entre outras. A encefalite letárgica era uma hidra de mil cabeças.

Nos primeiros dez anos em que a doença surgiu, essa pandemia afetou a vida de quase 5 milhões de pessoas antes de desaparecer, em 1927, tão misteriosamente como surgiu. Alguns pacientes morreram (cerca de 1/3) e os que sobreviveram tornaram-se o que Sacks chamou de paciente pós-encefaliticos, com características de sintomas inigualáveis do sono, sexualidade, tono emocional e apetite, quase todas com alterações de comportamento ligadas a atenção, pensamento, consciência, afetividade, entre outras. Eram distúrbios negativos do comportamento, os pacientes estavam ontologicamente mortos ou adormecidos, esperando um despertar.

A experiência com a L-dopa feita por Sacks nestes pacientes, vai alterar seus comportamentos, como veremos na próxima postagem.

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