quarta-feira, 23 de abril de 2008

A influência da serotonina no comportamento agressivo




"Adolescentes podem ser mais propensos a cometer crimes violentos se tiverem uma versão menos ativa de um gene que controla a agressão e forem submetidos a abusos na infância, segundo um estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria de Londres e objeto de uma reportagem da revista científica New Scientist.
A equipe do Instituto de Psiquiatria de Londres teve acesso a um estudo neozelandês que acompanha desde 1972 a saúde física e mental de mais de mil pessoas desde o nascimento.
Os pesquisadores analisaram tanto o registro de maus tratos na infância quanto a presença da enzima MAO-A, que regula a quantidade de serotonina no cérebro, molécula que tem um papel importante no controle da agressão.
O resultado indicou que crianças que sofrem algum tipo de abuso na infância e possuem uma forma pouco ativa da MAO-A têm três vezes mais chances de apresentar uma desordem comportamental e dez vezes mais chances de serem condenadas por um crime violento.
O estudo identificou dois grupos de delinqüentes.
Um grupo é formado por pessoas que passam a cometer crimes pequenos depois de entrar em contato com a turma errada. Esses jovens comumente deixam a criminalidade aos vinte e poucos anos.
O outro grupo, mais problemático, é formado por pessoas que passam a dar sinais de um comportamento anti-social já mesmo na idade de ir à creche. São essas crianças que teriam uma predisposição biológica para problemas comportamentais, segundo o estudo."

Nesta reportagem da BBC de Londres (publicada no jornal O Globo, em 10/04/08), pesquisadores ingleses e neozelandeses analisam o funcionamento da proteína MAO-A, e sua correlação coma serotonina, neurotransmissor responsável principalmente pela sensação de bem estar e prazer. A serotonina, segundo Kandel (1995), está dentro do grupo das aminas biogênicas (um dos tipos de neurotransmissores) e tem como precursor o aminoácido triptofano. Quando existe uma diminuição deste neurotransmissor no organismo humano, algumas psicopatologias podem se manifestar, como a esquizofrenia, depressão, enxaqueca, entre outras. Quando necessário serão administradas algumas drogas que funcionam como recaptadores da serotonina, ou seja, inibem sua “exclusão” da fenda sináptica fazendo-a aumentar sua quantidade no córtex cerebral.

A relevância dessas informações na mídia é a discussão, da relação entre dados biológicos e o comportamento humano. Damásio (1994) foi um dos neurocientistas pioneiros no estudo entre um comportamento e suas relações neurais no cérebro. Ele defende a hipótese de um marcador somático, onde haveria correlações entre os circuitos neurais e o processo cognitivo de juízo moral. Contudo Damásio e outros neurocientistas não negam a importância da cultura e/ou meio social como um facilitador ou inibidor para a expressão de determinados comportamentos.

Podemos nos perguntar: a conduta anti-social (como a violência, por exemplo) pode ser considerada uma alteração de neurotransmissores e de circuitos cerebrais? As pesquisas atuais apontam para uma confirmação desta hipótese, reafirmando a consideração de que existem “desajustes” sociais (como o sofrimento de abuso na infância) que colaboram e muitas vezes podem disparar este tipo de comportamento.

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