sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DA MEMÓRIA



Classificação:
Memória Explícita: semântica e episódica / Memória implícita /memória operacional
Memória operacional: pequenas quantidades de informação por poucos segundos. Vulnerável e dependente dos níveis de atenção (memória RAM).
Memória de curto prazo: envolve quantidades intermediárias de informação por poucos minutos.
Memória de longo prazo: envolve quantidades maiores de informação por períodos que variam desde poucos minutos até vários anos.
Memória explícita ou declarativa: ocorre recuperação consciente do material.
Memória implícita ou não-dclarativa: a experiência prévia influencia o comportamento ou a cognição embora não haja recuperação consciente. Memória de procedimento: condicionamento clássico, condicionamento não-associativo e habilidades perceptivo-motora. Pré-ativação ou priming: demonstrada pela capacidade de gerar ou identificar estímulos (verbais ou visuais) previamente estudados.
Gradiente temporal: os traços de memória são armazenados temporariamente antes de serem gradualmente reorganizados e armazenados de modo mais permanente no neocórtex.
Normalmente avalia-se a m. explícita, a implícita precisa ser avaliada quando se quer avaliar comprometimento subcortical. Acidentes com doenças primariamente corticais (Alzheimer) podem manter a m. implícita por longos períodos. Pacientes com doenças primariamente subcorticais (Huntington) apresentam comprometimento da memória implícita.
Habilidades e hábitos: estriado. Pré-ativação: neocórtex. Condicionamento: amígdala e cerebelo. Aprendizado não-associativo: vias reflexas.
Avaliação da memória - anamnese: sintomas isolados x associados, início insidioso x abrupto, distinguir recente x remota, curso estável x progressivo, nível pré-mórbido, outros fatores associados (depressão, medicamentos).
Avaliação nuropsicológica da memória – avaliar memória operacional, de curto e longo prazo. Deve compreender; atenção, linguagem, visopercepção.
Avaliação da memória operacional verbal; ordem reversa de dígitos, soletração e contagem reversa, operações seqüenciais (somar de 3 em 3) e PASAT.
Avaliação da memória operacional visual: finger Windows, blocos de corsi
Avaliação da memória de curto e longo prazo: estímulo – recuperação imediata, distratores, recuperação com pistas, recuperação tardia, reconhecimento.
Aspectos importantes para o diagnóstico: gradiente temporal, recente x remota, gaps, períodos de melhora e pioras, correlação do QI e nível pré-mórbido, discrepância verbal/visual, início, curso (evolução).
Amnésia psicogênica – dicas clínicas: perda de identidade, dissociação entre memória história e memória autobiográfica, preservação da capacidade de aprendizado, belle indiferénce.
Organização da memória: de acordo com o tipo de material: verbal (HE) e não-verbal (HD).
Avaliação da memória explícita:
Verbal: histórias, listas de palavras
Visual: desenhos
Mistos: nomes e faces
Teste de listas de palavras: Rey verbal (RAVLT), teste verbal Califórnia, escala de avaliação de memória.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA





· Identificar déficits, determinar como eles afetam o funcionamento geral do indivíduo, estabelecer as inter-relações entre déficits, correlações entre déficits específicos e a neuropsicologia.
· Estabelecer/contribuir para um diagnóstico clínico.
· Delinear o perfil cognitivo em casos de diagnóstico já determinado.
Avaliação neuropsicológica da atenção
A atenção seria a capacidade de selecionar e manter controle sob a entrada de informações externas necessárias num dado momento. A atenção também diz respeito ao controle de informações geradas internamente.
ATIVAÇÃO: tônica (controle interno) – fisiológico ciclo sono-vigília se relaciona com a intensidade de vigília. Fásica (controle externo): modificações momentâneas na responsividade geral, freqüentemente controlada pelo meio externo.
Atenção seletiva, alternada, dividida, sustentada (concentração).
AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO:
Em muitos casos de lesão cerebral a desatenção pode ser o único déficit existente. A avaliação da atenção é obrigatória em qualquer exame neuropsicológico, devendo inclusive preceder àquelas demais funções. Deve sempre considerar o estado de cs, a motivação, cansaço, o humor e a ansiedade em perfazer as tarefas.
Testes:
  • Seletividade e sustentação cancelamento, Tavis-3, stroop, CTP. Alternada: testes das trilhas, Tavis-3, digit symbol (símbolos) Amplitude (span) quantidade de material que pode ser inicialmente apreendida quando o material é apresentado uma única vez: digit-span, span de palavras, span de posições espaciais (corsi, finger Windows), repetição de frases. Tempo de reação: tavis-3, CPT.
    O PASAT (o examinando tem que ir somando de 2 em 2 dígitos da seqüência, sem anotações é um teste de atenção e velocidade de processamento. O teste CPT (contínuos performance test), consiste em clicar na letra-alvo quando este aparecer na tela.
    Principais causas dos déficts de atenção: TDAH, depressão, fármacos, seqüela de TCE, esquizofrenia.
  • Testes altamente dependentes da atenção:
    Aritmética, testes das fichas, símbolos, testes de memória e que envolvam percepção visual de detalhes.

SKINNER: O CIENTISTA E O FILÓSOFO



“Como podemos situar Skinner? Seus experimentos são perturbadores em suas implicações. Por outro lado, suas descobertas são certamente significativas. Em essência, elas iluminam a estupidez humana, e qualquer coisa que ilumine a estupidez é brilhante.” (Slater, 2004)
Ainda seguindo os passos de Lauren Slater sobre a complexa personalidade de Skinner e seus pensamentos pragmáticos, porém humanitários e talvez até idealistas, encontro pistas de seus escritos sobre a relação emoção/comportamento, vale lembrar que Skinner como bom behaviorista, era também antimentalista.
De acordo com Skinner quando agimos vilmente, sentimo-nos vil, e não vice-versa. Ou seja, não existe, para Skinner, o caminho inverso: um sentimento (ou emoção) precedendo um comportamento, os sentimentos ou emoções são sempre conseqüências de um comportamento. Talvez possamos inferir, então, que o comportamento de pessoas alegres e felizes possa interferir em um grupo social. Ele concorda que o homem existe irrefutavelmente em relação ao seu meio ambiente e nunca poderá se livrar dele.
Na visão de Skinner, estamos entrelaçados e precisamos assumir responsabilidade pelos fios que nos ligam. Isto significa que podemos aprender com o comportamento de um indivíduo em grupo social? Creio que Skinner concordaria afirmativamente com a pesquisa sobre a felicidade como contagiante, mas entendendo felicidade como um comportamento operante e passível de reforço positivo.
No seu livro mais filosófico do que científico, Beyond freedom and dignity, Skinner escreve:
“As coisas pioram continuamente e é desanimador descobrir que a própria tecnologia é cada vez mais falha. O saneamento e a medicina tornaram mais agudos os problemas de controle populacional. A guerra adquiriu um novo horror com a invenção de armas nucleares, e a busca intensa pela felicidade é em grande parte responsável pela poluição”
Skinner escreveu esse texto em 1971, e nos diz algo como: as sensações ou sentimentos são conseqüências do comportamento. Quem escreve isto o Skinner cientista ou “filósofo”? Sua filha Julie Skinner responde: você não pode separar a ciência da filosofia. Será???
Referência bibliográfica: Mente e cérebro, Lauren Slater, 2004, editora: ediouro.

SKINNER



Bem, o que pensaria Skinner sobre a idéia da felicidade ser contagiante? Será que a emoção pode ser aprendida e condicionada como vários comportamentos humanos?
Lauren Slater escreveu no seu livro: Mente e Cérebro, um capitulo dedicado à Skinner e suas descobertas... Vamos dar um breve mergulho neste importante psicólogo do século 20.
Lauren entrevista Stephen Kosslyn, professor de psicologia em Harvard: “Prevejo um ressurgimento de Skinner. Eu próprio sou um verdadeiro fã de Skinner. Os cientistas estão agora mesmo fazendo novas descobertas excitantes que apontam para os substratos neurais dos achados de Skinner”. (Slater, 2004)
Kosslyn explica a descoberta dos neurocientistas a respeito das bases neurais da aprendizagem, por hábito ou condicionamento, estarem localizado nos gânglios basais, enquanto o aprendizado ligado a criatividade e planejamento estão localizados no córtex frontal.
As idéias de Skinner também são bastante utilizadas na área da psicologia clínica (TCC), com técnicas de dessensibilização sistemática e inundação, extraídas diretamente do repertório operante de Skinner para tratar fobias e transtornos de pânico, assim como os métodos comportamentais foram levados aos asilos governamentais e aplicados aos gravemente psicóticos.
Há ainda aplicações da suas idéias numa aplicação behaviorista para segurança no trânsito. Outro psicólogo chamado Bryan Porter, entrevistado também por Lauren, responde: “Com o uso de técnicas behavioristas, pudemos reduzir a direção perigosa, no que diz respeito ao número de avanços de sinais vermelhos em 10% a 12%”. (Slater, 2004)
Enfim, a teoria de Skinner é atual em muitas áreas da psicologia e aplicável beneficamente para a humanidade, não resta nenhuma dúvida. Porém, resta ainda a dúvida, segundo o pensamento behaviorista: a felicidade é contagiante?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

NEUROPSIQUIATRIA e suas implicações


“A neuropsiquiatria é o ramo médico que integra os domínios da neurologia e da psiquiatria, e suas relações.” Esta definição retirada da Wikipédia restringe este estudo ao campo da medicina. Contudo, atualmente, observa-se também influência das neurociências e da psicologia através das avaliações neuropsicológicas em pacientes com transtornos psicopatológicos.
A neuropsiquiatria é também considerada um campo de estudo que está situado na interface entre a neuropsicologia a psicopatologia. É uma área do conhecimento que busca investigar as correspondências ou relações entre as regiões cerebrais e as funções cognitivas com psicopatologias já estabelecidas.
As pesquisas mais recentes mostram que crises repetidas de depressão, psicose, pânico podem alteram a estrutura cerebral em termos químicos e estruturais (volume de certas estruturas cerebrais, principalmente o Hipocampo). Cada vez mais você vai ouvir falar: depressão prolongada ou depressões repetidas fazem mal para o cérebro. O tratamento protege seu cérebro dessas alterações. Por isso a importância das intervenções medicamentosas.
Foi provado cientificamente que em Depressão, Depressão Bipolar, Psicose, Distimia, Distúrbio Afetivo Bipolar, entre outras, a Psicoterapia pode ser importante pelo seguinte:
Aumenta a adesão ao tratamento. Estamos falando de doenças de longa duração, e mesmo que elas tenham passado, a manutenção da medicação pode ser prolongada. A psicoterapia ajuda a manter o uso disciplinado dos medicamentos.
Ajuda a manter o ritmo de atividade, lazer, sono que é importante na manutenção da saúde.
A psicoterapia detecta sintomas e recaídas em estágios bem iniciais.
Ela minimiza o impacto negativo da doença na vida pessoal, acadêmica, profissional.
A Psicoterapia ajuda a identificar a presença de efeitos colaterais dos medicamentos. Exemplo: impregnação de neuroléptico (Antipsicótico) pode simular uma Depressão e pode piorar o sono por causa da Acatisia (necessidade de mexer as pernas). Ela ajuda a diferenciar o que é sintoma da doença e o que é uma circunstância normal da vida que possa estar deixando a pessoa mais ansiosa ou mais triste por exemplo

A FELICIDADE É CONTAGIANTE?



Todos concordaram que alguns comportamentos humanos são altamente contagiantes. Muitas vezes não seguramos um bocejo perto de alguém que está bocejando, assim como um fumante tende a fumar perto de outro. Contudo quando o assunto trata-se de uma emoção existe uma gama de opiniões divergentes.
Lehrer (http://scienceblogs.com/cortex/) escreve no seu blog que sim, a felicidade pode ser contagiante. A partir de pesquisas no âmbito da psicologia social alguns autores afirmam que a felicidade tem um papel social importante nas redes sociais humanas. Ou seja, essa emoção pode ser adaptativa em um grupo social.
Segundo Christakis, sociólogo de Harvard, a felicidade não é uma experiência individual, mas uma “identificação” entre pessoas de um grupo. Pessoas felizes tendem a estar no centro de seus grupos sociais e a participarem de grupos de pessoas também felizes! O autor admite que a emoção felicidade não seja estática e, portanto pode sofre alterações do meio. Porém acredita que a felicidade pode servir de modelo adaptativo, aumentando a ligação entre as pessoas e redes sociais.
Mas o que está por trás desta teoria? Podemos dizer que a emoção de felicidade pode funcionar como o modelo dos neurônios espelhos? Porém se isso fosse verdade valeria para outras emoções também, como tristeza, raiva ou medo. Por que só a felicidade é contagiante?
Um outro aspecto para pensarmos é no próprio conceito de felicidade, podemos observar que existem pessoas mais alegres ou felizes do que outras, tanto quanto tristes e deprimidas, mas segundo aprendemos na universidade, estes são aspectos de personalidade construídos ao longo da vida. Será ele contagioso? Uma boa idéia seria formar terapeutas somente as pessoas felizes, otimizando os atendimentos psicológicos através do modelo quanto a esse quesito.
Há outra questão para refletir: é possível fazer essa correlação: pessoas alegres atraem pessoas alegres? Ou seja, vivemos em clusters de alegres ou deprimidos? Não há misturas no meio social?
Bem, se essa teoria é verdadeira, por que não usá-la em prol da humanidade? Polyanna adoraria esta idéia, assim como Skinner.

domingo, 14 de dezembro de 2008

NEUROIMAGEM, PENSAMENTOS E SONHOS





O que pensaria Freud da nova descoberta dos pesquisadores japoneses a respeito da visualização através da neuroimagem dos nossos pensamentos e sonhos? Será que sua teoria dos sonhos seria finalmente comprovada ou considerada totalmente fora de propósito científico?
Numa reportagem da BBC (http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2008/12/12), cientistas japoneses declaram estarem próximos de uma nova tecnologia de neuroimagem que possibilita a visualização de alguns tipos de pensamentos. Para que isso seja possível os pensamentos devem ser expressos em palavras ou objetos, pois estas são formas de “pensamento” codíficável para que as máquinas possam escanear em “imagens”.
Estas pesquisas estão baseadas nos estudos sobre o processamento visual, ou seja, como são codificadas as imagens que chegam a nossa retina no córtex visual, o qual se localiza na área occipital do cérebro humano.
“O pesquisador-chefe Yukiyasu Kamitani, de 38 anos, afirmou que esta foi a primeira vez na história da ciência em que foi possível processar, diretamente das atividades cerebrais, imagens do que uma pessoa viu.”
Com o software criado pelos cientistas, eles conseguiram processar imagens vistas por pessoas ligadas a aparelhos de ressonância magnética. Isto significa que os cientistas estão tentando simular e ao mesmo tempo registrar o processo cognitivo que acontece entre o enxergar algo e poder identificá-lo no “vocabulário” de objetos, palavras, pessoas ou outras coisas físicas.
A importância desta descoberta vai além de um novo exame de neuroimagem. Trata-se da possibilidade de visualização de um processo cognitivo importante que é o pensamento. Pois quando pensamos estamos utilizando vários neurocircuitos ao mesmo tempo como a linguagem, a percepção, o ambiente (contextualização), e dependendo do pensamento e da inteligência individual, vários outros circuitos podem entrar em ação. Porém, resta ainda uma dúvida: será possível registrar da mesma maneira os sonhos ou mesmo as emoções, já que estes não lidam necessariamente com imagens tão concretas?

sábado, 13 de dezembro de 2008

MEMÓRIA E NUTRIÇÃO



Pegando o gancho da última postagem sobre a discussão abordando o tema da neuroética e do aperfeiçoamento cognitivo, achei interessante dar continuidade ao assunto usando como referência uma matéria do globo sobre memória e dietas.
“A dieta das proteínas pode prejudicar a memória. Uma pesquisa sugere que a falta de carboidratos interfere no funcionamento do cérebro mesmo em pouco tempo. Após uma semana seguindo a dieta que restringe radicalmente os carboidratos, os seguidores do regime submetidos a testes de memória tiveram resultados piores do que pessoas que também estavam de dieta, mas não retiraram pães, massas e frutas do cardápio.”
O estudo foi realizado por uma equipe de pesquisadores de psicologia cognitiva da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos. A memória visual e espacial foi medida (antes, durante e depois da dieta) através de testes neuropsicológicos, em um grupo controle e no grupo experimental. Chegou-se a conclusão que houve uma diminuição destas memórias (o tempo de latência das respostas aumentou durante a dieta) com a dieta de Atkins, na qual se ingere pouco carboidrato.
A hipótese dos pesquisadores é de que os carboidratos se transformam em glicose (combustível essencial para o cérebro humano), enquanto as proteínas são metabolizadas como glicogênio. A glicose é considerada fundamental para um bom funcionamento cognitivo e em especial para a memória.
Voltando para o tema dos medicamentos usados para melhorar a performance cognitiva e fazendo um paralelo com esta pesquisa, o que podemos analisar? Em que devemos investir: numa alimentação mais voltada para as necessidades cerebrais ou no uso de drogas que aumentem nossa capacidade e rapidez cognitivas? Como a psicologia cognitiva deve se posicionar diante desta discussão?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

NEUROÉTICA 2



Uma das drogas reivindicadas para uso em pessoas saudáveis, além da ritalina, é uma droga chamada modafinil que trata de pessoas com fadiga ou que necessitam ficar acordadas por longo período de tempo (como médicos de plantão). Essa droga aumenta a capacidade da função executiva e do controle inibitório, também melhora a performance da memória de trabalho.
Todos nós sabemos que é possível obter melhora nas performances mentais através de recursos “naturais” como sono, alimentação e exercícios físicos. Além dos recursos artificiais como uma boa educação, cultura e acesso à algumas tecnologias (internet, por exemplo) também podem facilitar o aperfeiçoamento mental. Porém, o ponto que se coloca entre o mundo científico e o não-científico é a questão moral. Todos esses recursos citados não são invasivos ao organismo humano e exigem um esforço de cada um para chegar a algum resultado. Já este tipo de droga, se tomadas para aperfeiçoamento cognitivo, são invasivas e não exige muito esforço ”extra”, ela irá modificar momentaneamente algumas funções cognitivas, de maneira quase mágica.
O que os cientistas, como Gazzaniga (http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/456702a.html), respondem a essa questão é: porque não? Eles não consideram a intervenção medicamentosa para aperfeiçoamento cognitivo algo tão distinto da intervenção educacional e tecnológica. Pesquisas recentes têm identificado os benefícios neurais causados pelo sono, nutrição e exercícios, assim como da leitura e instrução. E no final, concluem que estes mecanismos de aperfeiçoamento mental são equivalentes ao uso de drogas para tal objetivo.
Os opositores a essa questão lançam argumentos que vão das questões pragmáticas até as filosóficas. Um deles é o fato dos medicamentos diminuírem o valor do esforço humano. Este argumento é bastante rejeitado de maneira geral, pelo fato de não ser isto que irá definir a capacidade humana, mas sim as escolhas individuais. Contudo existem três pontos mais polêmicos: o uso de medicamentos seria injusto, não-natural e suscetível ao abuso de drogas.
Será que, utilizando a fala de Roberto Lent, voltamos ao mito de Prometeu ou de Frankenstein? Ou melhor, será que nunca desistimos de nos recriar ou reinventar? No momento as drogas para potencializar a mente estão em pauta!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

NEUROÉTICA: POR QUE RESISTIMOS AO APERFEIÇOAMENTO COGNITIVO?



“Um manifesto assinado por pesquisadores de sete universidades líderes nos EUA e no Reino Unido pede que o uso de drogas com o fim de melhorar a inteligência seja regulamentado e, eventualmente, liberado. Em artigo ontem no site da revista "Nature" (www.nature.com), os acadêmicos argumentam que é preciso disciplinar o uso que pessoas saudáveis fazem de medicamentos como a Ritalina (metilfenidato)” (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u476483.shtml)
Essa reportagem publicada na folha de São Paulo pelo jornalista Rafael Garcia traz a luz uma questão polêmica entre os cientistas, a sociedade e a “lei”. Por que nossa sociedade se mostra resistente ao uso de drogas para aperfeiçoamento mental, enquanto os cientistas afirmam não ser uma má idéia? Serão estas questões políticas, éticas, científicas, morais, ou até mesmo existenciais?
Roberto Lent, na palestra ministrada na PUC-RIO (www.nnce.org) com o título “Neuroética: o mito de Prometeu revisitado” abordou essa questão, a qual nos parece pertinente, dado o fato deste assunto estar em pauta na mídia e no mundo científico. Lent levanta a questão: porque aceitamos as drogas para o tratamento mental/cognitivo (como no caso da doença de Alzheimer) ou mesmo para uma melhor performance sexual em jovens (Viagra) e consideramos moralmente “errado” o uso delas para um aperfeiçoamento físico (doping) ou mental (ritalina para a memória e atenção, por exemplo)?
Ainda seguindo o raciocínio de Lent: no famoso caso citado por Damásio, o paciente Gage sofre de uma lesão no córtex pré-frontal causando danos a sua “moralidade”, ou seja, se sabemos que existe correspondência no cérebro para questões morais, porque não intervir cirurgicamente ou medicamentosamente em paciente psicopatas? Não seria um benefício para a sociedade? Por que não podemos modificar a estrutura da mente humana, se temos recursos para tal?
"Propomos ações que vão ajudar a sociedade a aceitar os benefícios do aprimoramento, acompanhadas de pesquisa apropriada e regulamento avançado", escrevem os cientistas. "Isso tem muito a oferecer para indivíduos e sociedade, e uma resposta apropriada por parte de todos deve incluir a disponibilização dos aprimoramentos acompanhada da gestão de riscos."
Talvez o que assuste tanto o ser humano quanto a essas questões seja a pergunta: qual é a essência humana (tendemos a pensar que está na mente)? Podemos nos reconstruir através do uso de medicamentos? Como será o ser humano daqui a algumas décadas dentro desta perspectiva?